Vez por outra volto às paisagens e histórias do Sertão Nordestino. Dentre essas memórias, nada é mais emocionante do que recordar a roda de assar castanhas, no quintal da casa de tia Emília. Uma brincadeira que para mim tem um significado sagrado de amizade e alegria. Nós, de cócoras, em torno de um buraco cavado para acolher os cipós ardentes onde as castanhas eram assadas. Ali mesmo as castanhas eram quebradas e descascadas para saborear o fruto do seu casulo.
Há outras lembranças inseridas nessas paisagens. Uma delas é uma maldade que não esqueço, de quando coloquei sal na pele de um sapo (coitadinho!), fazendo-o saltitar como podia. Os sapos e as jias me causavam pavor. Recordo ainda as corridas atrás
das tanajuras que apareciam após as
chuvas sertanejas – travessura que fazia parte das brincadeiras da meninada
– caçando-as nos céus que cobriam a igreja de Custódia, depois das chuvas que abriam o
esperado inverno.
Lembro, ainda, do meu avô, Pai Velho, de
Tabira – no sertão do Pajeú – que tinha um sítio na Vazante – uma várzea que
se alagava durante a enchente de um pequeno rio, onde ficavam suas
terras. Ele nos falava como era a caçada das arribaçãs lá no sítio,
e as trazia já depenadas para comê-las em casa, a nos fazer
experimentar o seu esquisito sabor. Não esqueço a história da cobra que lhe passou sobre o corpo, enquanto ele cochilava debaixo de uma árvore.
Era o tempo em que se comia farofa temperada com carne assada, esmigalhada no pilão do
quintal da minha casa – uma mistura que chamávamos “paçoca" – bem diferente das paçocas de amendoim que hoje se faz.
No quintal da casa do meu avô ele criava colmeias. Nas férias, nós as encontrávamos cheias de favos embebidos de mel de um sabor especial! Suas abelhas eram bem cuidadas e o mel era produzido do néctar das flores de laranjeira que ele cultivava no quintal. As laranjas nos esperavam amadurecidas, para que as colhêssemos diretamente no laranjal.
Vivendo
na capital, bem mais tarde, com três filhas pequenas, cultivei o
prazer de ter um jardim e um quintal – ainda quando morávamos numa casa com um grande terraço com um jardim interno que dava para as janelas dos quartos. Logo na entrada, diante da casa, plantamos um pau-brasil, a nossa árvore
inesquecível, que vingou e cresceu exuberante. Até que um dia vendemos a casa. E só mais tarde percebemos que o pau-brasil fora enterrado nos fundamentos de
um novo edifício.
Naquele grande terraço também criamos um canário numa gaiola bonita, presenteado por um dos
meus sobrinhos, porque sua família estava de
mudança para o Rio de Janeiro. O canário era a alegria das crianças. Elas faziam de conta
que cuidavam da sua comida e da sua água. Mas um dia, sabe-se lá o porquê, o canário
amanheceu morto! Passamos muito tempo com saudade e, de desgosto, desistimos de criar outro
passarinho.
Mais tarde, já no apartamento onde formos morar, uma das filhas chegou um dia com uma gata que recebera de presente, ainda nova e cheia de estripulias. A gata se afeiçoou a mim e vivia a cochilar aos meus pés, enquanto eu lia na cadeira de balanço da sala. A sala tinha, do lado externo do ocidente, uma varanda que nos fazia ver passar o rio Capibaribe. Do lado oposto, na parede que separava a sala da cozinha, havia uma abertura larga para arejar o ambiente que recebia o sol da tarde.
A
gata chamava-se Mafalda, em homenagem
à sábia e crítica Mafalda – conhecida
pelas histórias em quadrinhos do argentino Quino
(Joaquim Salvador Lavado), que nos
acostumamos a ler em família. Certa noite (e volto a contar mais uma história de
despedida), Mafalda se levantou dos meus pés, assustada, fixou o olhar na abertura do passa-pratos que mostrava o janelão aberto para uma noite enluarada.
De súbito, lá se foi Mafalda em longos pulos acrobáticos, do chão ao passa-pratos, do passa-pratos ao janelão, lançando-se do sexto andar. Assim, desfazendo-se de uma de suas sete vidas, espatifando-se no chão, no mezzanino, ao lado da piscina. Salvamos Mafalda deixando-a por alguns dias no veterinário. Em seguida, a entregamos aos cuidados da mãe de nossa empregada, que adorava gatos, e que cuidou dela até mais alguns anos de vida.
De súbito, lá se foi Mafalda em longos pulos acrobáticos, do chão ao passa-pratos, do passa-pratos ao janelão, lançando-se do sexto andar. Assim, desfazendo-se de uma de suas sete vidas, espatifando-se no chão, no mezzanino, ao lado da piscina. Salvamos Mafalda deixando-a por alguns dias no veterinário. Em seguida, a entregamos aos cuidados da mãe de nossa empregada, que adorava gatos, e que cuidou dela até mais alguns anos de vida.
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Créditos imagens:
Castanhas de caju, no sertão - sertaodesencatado@blogspot.com.br
Favo de abelhas - www.diariodebiologia.com/2010/05
Canário - www.casadoadubo.com.br
Gato - www.canstockphoto.com.br
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