Vanise Rezende - clique para ver seu perfil

OS PALPITES DE MARIA JILÓ

10 junho, 2015


Maria Jiló é uma senhora de 92 anos, miúda, e elegante. Todo dia, às oito da manhã, ela se apresenta toda vestida, bem penteada e... com um discreto pó de arroz, apesar de sua pouca visão. Seu marido – com quem ela viveu por 70 anos – morreu recentemente, e a solução que se encontrou foi a encaminhar para uma casa de repouso.


Após após conversar carinhosamente com ela sobre a sua situação – marcamos, para que eu lhe encontrasse uma nova moradia. Quando o dia chegou, ela já estava pronta – havia decidido o que levaria e o que não lhe serviria mais. Estando lá,  após  esperarmos um bom tempo, ela ainda fez um lindo soriso, quando a atendente veio avisar que o seu quarto estava pronto. Enquanto ela manobrava o andador em direção ao elevador, fiz-lhe uma descrição do seu minúsculo quartinho, dando ênfase às cortininhas que cobriam os vidros da janela.


Foi quando ela me interrompeu com o entusiasmo de uma garota que acaba de ganhar um lindo presente:

– Ah, eu adoro essas cortinas!...

– Mas, a senhora ainda nem viu o seu quarto...

– Isto não tem nada a ver – ela respondeu – felicidade é uma coisa que você decide por princípio. Se eu vou gostar ou não do meu quarto, não depende de como a mobília estiver arrumada... Vai depender de como eu preparo a minha expectativa. E eu já decidi que vou adorar! É uma decisão que tomo todo dia, ao acordar – gostar do que a vida me oferece, a cada momento.


Eu a olhava, pensando como aquela mulher havia aprendido a enfrentar, com tanta serenidade, cada momento da vida. 

Percebendo o meu olhar curioso, ela continuou: – Sabe de uma coisa? Eu poderia passar o dia inteiro na cama, contabilizando as dificuldades que tenho por todo o meu corpo, que há algum tempo já não funciona como antes... Mas, eu também posso me levantar agradecendo pelas outras partes do corpo que ainda me obedecem.


– Simples assim? Perguntei-lhe (aquilo me parecia muito difícil!).

– Nem tanto, minha filha. Isto é para quem aprende a ter autocontrole – mas, na verdade, todos podem aprender, bastaria que se aproveitasse os momentos que servem para se exercitar. Isso exigiu de mim um bom treino, mas gosto de observar que posso orientar os meus pensamentos para onde eu quiser. É assim que escolho os sentimentos que devem ser cultivados no coração.

Eu contemplava a profundidade e, ao mesmo tempo, a simplicidade dos valores vividos por aquela mulher. Aquele estilo de vida me parecia um grande dom de Deus. Ela percebeu algo, e quis me explicar melhor.

– Para mim, cada momento é um dom. Procuro focalizar minhas energias em cada novo dia, e manter a lembrança alegre do passado, para usá-la sempre que for preciso. A velhice é como uma conta bancária: você só retira aquilo que depositou... Algumas vezes, até com um acréscimo de ganho. Se alguém me perguntasse como é que se faz isso, eu diria que procure – no decorrer dos anos – depositar um monte de alegrias na conta da sua memória. Como agora: as boas surpresas de hoje, eu já estou depositando no meu Banco de Lembranças.


Mais tarde – quando minha amiga já estava bem instalada no seu novo espaço – tirou de sua bolsa de pano um caderno de anotações pessoais, embora não fossem datadas. Não perdi tempo, e lhe pedi para copiá-las. Assim, posso repassá-las a quem desejar aprender da preciosidade de sua experiência longeva.

O título do texto é: Para manter a paz e o bem-estar

Esqueça os números, eles não são essenciais: a sua idade, a sua altura e o seu peso só interessam ao seu médico, e a mais ninguém.

Procure manter os amigos mais divertidos, com atenção e carinho. Há pessoas que tendem a puxar os outros para baixo. Será melhor evitar tê-las por perto...

É bom lembrar que, na vida, há sempre o que aprender. Procure aprender mais como usar o computador e a internet, e, igualmente, como fazer jardinagem – nem que seja no pequeno canteiro da sua janela. O mais interessante é você mesmo descobrir o que você mais gostaria de aprender e ir em frente para conseguir o que deseja. Não deixe que o seu cérebro se torne preguiçoso. 'Uma mente preguiçosa é a oficina do Alemão'. E o nome do Alemão é Alzheimer!


   

Fique atento à beleza e ao sabor das pequenas coisas: da sua janela, talvez você possa contemplar o nascer ou o pôr do sol... E, no seu cardápio, você pode sempre introduzir alguma novidade, pesquisando no facebook, na televisão ou com alguma amiga mais entendida de cozinha.






Procure criar oportunidades de você rir mais, brincar mais, e sair mais... Deixe
que a sua risada ressoe com vigor. Ria por tudo o que lhe der vontade. Até das coisas que você achar um pouco ridículas em sua vida. E se tiver amigos que o façam rir, tente encontrá-los com mais frequência. Se não os tiver... está na hora de procurá-los.


Quando houver motivos para as lágrimas chegarem... não tenha vergonha de chorar, mas cuide de ultrapassar aquele momento, com serenidade e coragem. E lembre-se: a única pessoa que pode ficar com você durante toda a sua vida, é você mesmo. VIVA, então, enquanto a vida lhe permitir. 


Procure se rodear das pessoas que você ama e das coisas de que você mais gosta: o que quer que seja que lhe dê mais alegria, de modo que você possa partilhá-la com outros.

Seja cuidadoso com a sua saúde: é você o primeiro responsável por ela. E, se tiver boa saúde, trate de mantê-la. Se sua saúde for instável, procure ajuda para que você se sinta melhor.

Não faça viagens em busca de apagar suas culpas ou suas mágoas. Faça viagens – grandes ou pequenas – para conhecer coisas novas, vibrar com o inusitado, passear e se divertir. E, se possível, em boa companhia. As viagens não apagam culpas nem mágoas. Mas, trazem bons momentos de distração e prazer...



Quando sentir carinho, afeto ou amor, por alguém, procure a oportunidade de lhe falar desses seus sentimentos e da alegria que lhe trazem as ocasiões de estar com ela, ou com ele.


Até aqui, o que estava escrito no caderninho de Maria Jiló. Se esses rabiscos lhe provocaram algum interesse, procure passá-los adiante, pois as coisas boas devem ser divulgadas com a mesma velocidade que se divulgam as agruras do mundo.


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Crédito das imagens:

1. Quadro de Vincent van Gogh - pt.wikipedia.org.
2. Pôr do sol - arquivos do Blog Espaço Poese
3. Demais imagens - www.canstockphoto


Nota: As imagens publicadas neste espaço pertencem aos seus respectivos autores. Se alguém possuir os direitos de uma dessas imagens e deseja que 

não sejam publicadas neste espaço, por favor entre em contato com:
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