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LITERATURA — ZYGMUNT BAUMANN

26 junho, 2015

  ZYGMUNT BAUMAN 
                                                                                                                                                    VIDAS DESPERDIÇADAS


Ao apresentar seu trabalho acadêmico de análise sobre a “A Sociedade do Descartável” – a Professora Orgides Maria da Silva nos fala do que pensa o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, ao questionar as práticas do viver cotidiano na época em que vivemos – no seu livro: Vidas Desperdiçadas. Ela afirma: “Bauman nos oferece a oportunidade de compreender a nossa sociedade de uma forma mais íntima, mais próxima e mais profunda, o que de certa maneira pode causar estranhamento, inconformismo, não-aceitação, e ao mesmo tempo nos alertar para a sociedade que construímos e que continuamos a delinear para o futuro”.

Do seu artigo, algumas questões nos atingem diretamente: Bauman nos faz entender que a pós-modernidade é marcada pela exclusão que cresce a cada dia, impondo constantemente novas exigências, especialidades e qualificações para o mundo do trabalho  com as quais a nossa estrutura educacional não está preparada para lidar , o que acarreta um alto índice de desemprego. E nos convida a lançar “outro olhar sobre o mundo que habitamos e partilhamos.”  


A modernização – na visão de Bauman - provoca um grande índice de marginalização, e pode nos levar a pensar que este mundo está com gente demais, seria necessário desvencilhar-nos dos desvalidos, dos ignorantes, dos marginalizados… Chegamos ao ponto de entender a marginalização como uma realidade alheia a nós mesmos, sem que se perceba a responsabilidade que nos cabe diante desse caos. 


Mesmo se por algum instante a gente reflita sobre essas questões, em geral não analisamos até o fim as causas que produzem a marginalização. Fica-nos a ideia de que os pobres, os ignorantes, os sem cara nem vez são – eles próprios – os responsáveis por essa vidinha que vão levando. Pensa-se – isto sim – na própria defesa desse ambiente que determina a criminalidade, a insegurança social, os gastos sociais dos nossos impostos. Eles – digamos, os excluídos do nosso país – essa multidão de famílias empobrecidas!, são os que geram filhos a mais para receber o “bolsa família”... São eles e os outros  ainda mais pobres do que eles  que formam a massa dos nossos "descartáveis", "esse lixo humano sem serventia"! (- Nem trabalhar direito eles aprendem!), muitos dizem.   


Voltando ao que diz a articulista – ao comentar o livro do sociólogo – Bauman discute o panorama social, a ambivalência dos vínculos humanos e a incerteza em relação à construção de vínculos mais sólidos na sociedade. Afirma que os relacionamentos são de curto prazo ou em muitos casos até virtuais. O amor torna-se vítima da liquidez da sociedade contemporânea, fugaz e descartável, destruindo as formas mais ingênuas e puras de sentimento e da intimidade compartilhada”...

E conclui: Bauman afirma que não é pessimista, muito menos niilista e que sua obra é um convite à reflexão em busca da ação, na tentativa de romper  com o crítico modo de vida que levamos… Ele nos convida “à tentativa de possibilitar que a situação das pessoas em condição de fracasso e humilhação seja revertida, e a beleza seja algo comum”, algo possível de ser vivido.

A leitura desse artigo me deixou a refletir sobre a afirmação de que – ao organizar a relação entre as fronteiras sociais existentes entre inclusão/exclusão, dentro/fora, limpeza/sujeira, bem/mal, produto final e refugo – a pós-modernidade fez com que os indivíduos ficassem duvidosos de seus valores, diante de uma sociedade movida mais pelo desejo do ter, em detrimento do ser. E, assim, fez surgir a “sociedade do descartável”. Bauman nos acode, propondo-nos mais uma questão: Como pensar a divisão que surge entre nós e aqueles indivíduos?

Resta a nós a tarefa de aprofundar o entendimento do sentido mais profundo da expressão: sociedade do descartável. Como será que estou envolvida nesse jogo causal? Um jogo que se caracteriza pela visão de um mundo sem profundidade nem importância, que nos leva a conduzir sentimentos e relações pessoais ao largo de nós mesmos, (tudo aquilo que eu renego, porque é diferente de mim). 


Não pretendo misturar a minha história, a minha vida, embaraçando-me com essa gente, essas "políticas", essas "questões sociais" – eu “lutei” ("só eu sei quanto!"), para ter mais valor, para “alcançar” um alto nível de educação, mais dinheiro e conhecimento… – Por que será que "essa gente" não faz o mesmo?). 

Sou atencioso, boa praça, cordial e educado – embora no fundo consiga perceber que estou – também eu! -, pipocando por todos os poros, sem entender quem é mesmo que eu sou, para onde quero ir, o que estou fazendo da minha vida e, – pior ainda –, para quê?, em busca de quê estou endereçando o meu trabalho, os meus esforços do dia a dia, o meu adquirido saber?

Fica a sugestão de a gente pensar mais, ler mais, e refletir mais sobre essa “vida líquida” (mais uma expressão título de outro livro de Bauman), que nos escorre pelos poros, pelo nosso descuido do dia a dia, do tempo que se esvai  em pressa, e que eu nem chego a perceber!

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A autora do artigo citado, Orgides Maria da Silva Neta, é discente em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). orgides@ig.com.br

ResenhaOrgides Maria da Silva. Vidas Desperdiçadas. Revista ACOALF Aplp: Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, São  Paulo, ano  2,  n.3 - 2007. 

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Sobre Zygmunt Bauman:


Nasceu em 19 de novembro de 1925. É um sociólogo polonês que iniciou sua carreira na Universidade de Varsóvia, de onde foi afastado em 1968, após ter vários livros e artigos censurados. Sem muitas perspectivas, o sociólogo abandonou sua pátria e partiu para a Inglaterra, depois de passar pelo Canadá, EUA e Austrália. No início da década de 70 ele assumiu o cargo de professor titular da Universidade de Leeds, permanecendo neste posto por pelo menos vinte anos. Aí ele teve contato com o intelectual que inspiraria profundamente seu pensamento, o filósofo islandês Ji Caze.  (www.infoescola.com/biografias)

Grande parte de sua obra já foi traduzida no Brasil. Seus livros são povoados por ideias sobre as conexões sociais potenciais na sociedade contemporânea, nesta era comumente conhecida como pós-modernidade. Os estudos sociológicos lhe permitem refletir sobre a angústia que reina nos sentimentos humanos, emoção despertada pela pressa de encontrar o parceiro perfeito, sempre mantido como meta ideal, nunca como realidade concreta. Assim, os casais procuram manter relacionamentos abertos, que lhes possibilitem uma porta de saída para novos encontros. A insatisfação está, portanto, constantemente presente na esfera da afetividade humana. As pessoas desejam interagir, buscam a vivência do afeto, mas não querem se comprometer. É o que Bauman chama de amor líquido, vivenciado em um universo marcado pelos laços fluidos, que não permanecem, não se estreitam, desobedecem à lei da gravidade, ou seja, à ausência de peso. O que provoca a famosa ‘insustentável leveza do ser’, preconizada pelo escritor tcheco Milan Kundera.

Bauman crê que os relacionamentos a dois não podem se desenrolar à parte da cena social, das regras do jogo estabelecidas pela sociedade global. Nada pode, segundo ele, fugir deste complexo panorama, do moderno fenômeno conhecido como globalização. Aliás, este autor é também famoso por suas agudas pesquisas sobre os vínculos entre os tempos modernos, o Holocausto e o frenético consumo da era pós-moderna. Para o sociólogo, a fluidez dos vínculos, que marca a sociedade contemporânea, encontra-se inevitavelmente inserida nas próprias características da modernidade, discussão esta que está perfeitamente retratada nas primeiras obras do autor. É impossível fugir das consequências da globalização, com suas vertiginosas ondas de informação e de novas idéias. Tudo ocorre com intensa velocidade, o que também se reflete nas relações entre as pessoas. No Brasil é possível encontrar pelo menos dezesseis de seus livros traduzidos para o português, todos pela Jorge Zahar Editor. Entre eles os principais são Amor Líquido, Globalização: as Conseqüências Humanas e Vidas Desperdiçadas. Em 1989 ele conquistou o prêmio Amalfi, por sua publicação Modernidade e Holocausto; em 1998, obteve a premiação Adorno, pela totalidade de sua obra. Hoje Bauman leciona nas Universidades de Leeds e de Varsóvia.

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Fontes:

http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=123


http://pt.wikipedia.org/wiki/Zygmunt_Bauman


Créditos Imagens:

1. Capa do Livro: Vidas Despedaçadas - 
2.3.4. - Fotos divulgação do autor
5. www.canstockphoto.com.br






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