Nesses dias completei setenta e sete anos. A alegria maior foi a de comemorar as tantas décadas de contemplação da Mãe Terra, na sua dança permanente em torno de si mesma e ao redor do sol: a contemplação de belas auroras e dos seus reluzentes ocasos...
Alegria também na presença carinhosa de familiares e amigos que vieram ou que estavam comigo nos sinais que me chegaram, fazendo-me perceber que o tempo não apaga o afeto cultivado em reciprocidade. Assim, é cada vez mais viva a minha sensação de que a amizade é um sacramento que imanta de novidade cada fase do nosso caminhar.
Nesse longo percurso passei por estações irisadas de matizes florais, outras carregadas de frutos verdes ou desabrochados na sua identidade exuberante, amadurecidos na singularidade inteira de seu pleno sabor.
Aprendi que a vida está imbricada de estações mutantes de invernos com chuvas ensolaradas - feito no meu sertão - e outras avisadas por raios vibrantes e estrondosos trovões chegados de surpresa, quando carece fechar a porta e esperar, na esperança de passarem depressa. Experimentei também outonos suaves e fortes: as folhas coloridas de um cobre brilhante em múltiplas nuanças, revestindo devagar os caminhos do tempo que passa, até o inverno de uma paisagem fria de brancura infinda.
77 anos escritos assim, em caracteres iguais que dão a impressão de uma fase muito especial da vida, porque enriquecida do sentido profundo de tudo o que já foi - o viver no tempo ligeiro do dia a dia - e do sonho presente do que ainda está por vir.
77 anos escritos assim, em caracteres iguais que dão a impressão de uma fase muito especial da vida, porque enriquecida do sentido profundo de tudo o que já foi - o viver no tempo ligeiro do dia a dia - e do sonho presente do que ainda está por vir.
No final do dia, lembrei-me de uns versos achados à mesa da velha mãe de uma amiga francesa, recopiados no regalo da minha experiência pessoal, e que mais parecem uma cantiga de ninar desejos e sonhos, no cuidado e no afeto:
E um lugar iluminado de harmonia.
Não me ofereças móveis...
Ofereça-me o conforto
De um ambiente aconchegante.
Não me ofereças roupas...
Ofereça-me uma aparência
Saudável e atraente.
Não me ofereças sapatos...
Ofereça-me comodidade aos meus pés
E o prazer de caminhar.
Ofereça-me um recanto assombreado
Para ler poetas e escribas.
Ofereça-me o benefício e o prazer
De realizar coisas bonitas.
Não me ofereças dinheiro...
O que eu preciso para sobreviver.
Não me ofereças status...
Ofereça-me a presença dos amigos
E a partilha da sua emoção.
Não me ofereças coisas...
Ofereça-me ideias de partilha
E sentimentos de solidariedade.
Não me ofereças discursos...
Ofereça-me a atenção da escuta
E o dom de aprender o que ainda não sei.
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Créditos das Imagens:
1. Velhice - www.canstockphoto.com.br
2. Frutos - imagem divulgação (Itália)
3. A pensar - pintura de Iman Maleki, pintor realista iraniano - www.imanmaleki.galeria
4. Manhã Mística - My Misty Morning -Aforismi&nonsolo.com
Vana querida! Parabéns! Atrasado, contudo repleto de carinho e lembranças de conversas, conselhos, carinho e trocas! Desses teus anos acumulados, participei de pelo menos 20 deles! E, a admiração vem repleta do aconchego sempre oferecido!
ResponderExcluirBjos e que venham muitos outros anos.
Andréa