
Mais
uma vez, trago a palavra e a visão carismática de Leonardo Boff sobre a situação em que,
lamentavelmente, estamos deixando a Mãe Terra. Lendo-o, parece-me ouvir a voz
dos profetas do Antigo Testamento, anunciando que Deus não está satisfeito com
o modo como a estamos tratando. Pois a Terra foi entregue aos cuidados da Natureza, dos
homens e dos animais para que nos oferecesse vida, e vida em abundância. Segue o artigo.

Todo caos possui dois lados: um destrutivo e outro
criativo. O destrutivo representa a desmontagem de um tipo de equilíbrio que
implica a erosão de parte da biodiversidade e, no limite, a diminuição da
espécie humana. Esta resulta ou por incapacidade de se adaptar à nova situação
ou por não conseguir mitigar os seus efeitos letais. Concluído esse processo de
purificação, o caos começa a mostrar sua face generativa. Cria novas ordens,
equilibra os climas e permite aos seres humanos sobreviventes construírem outro
tipo de civilização.

Hoje, a comunidade científica, em sua grande maioria, nos alerta face a um eventual colapso do sistema-vida, ameaçando o próprio futuro da espécie humana. Todos podem perceber as mudanças que estão ocorrendo diante de nossos olhos.

Grandes efeitos extremos: por um lado, estiagens prolongadas, associadas à grande escassez de água, afetando os ecossistemas e a sociedade como um todo, como está ocorrendo no sudeste de nosso país. Em outros lugares do planeta, como nos USA, invernos rigorosos como não se viam há decênios ou até centenas de anos.
O fato é que tocamos nos limites físicos do planeta
Terra. Ao forçá-los, como o faz a nossa voracidade produtivista e consumista, a
Terra responde com tufões, tsunamis, enchentes devastadoras, terremotos e uma
incontida subida do aquecimento global. Se chegarmos a um aumento de dois graus
Celsius de calor, a situação é ainda administrável.
Caso não fizermos a lição
de casa, ao diminuirmos drasticamente a emissão de gases de efeito estufa, e
não reorientarmos nossa relação para com a natureza na direção da autocontenção
coletiva e do respeito aos limites de suportabilidade de cada ecossistema,
então prevê-se que o clima pode se elevar a quatro e até seis graus Celsius. Aí
conheceremos a “tribulação da desolação”
para usarmos uma expressão bíblica, e grande parte das formas de vida que
conhecemos não irão subsistir, inclusive porções da humanidade.

Destas nove dimensões, as quatro primeiras já
ultrapassaram seus limites e as demais se encontram em elevado grau de
degeneração. Esta sistemática guerra contra Gaia pode levá-la a um colapso como
ocorre com as pessoas.


Então me dou conta de que a Terra é de fato mãe generosa: às nossas agressões ainda nos sorri com flora e fauna. E nos infunde a esperança de que não o apocalipse, mas um novo gênesis está a caminho. A Terra vai ainda sobreviver. Como asseguram as Escrituras judeu-cristãs: “Deus é o soberano amante da vida” (Sab 11,26). E não permitirá que a vida que, penosamente, superou o caos, venha a desaparecer.
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- Leonardo Boff é colunista do JBonline, filósofo, teólogo e escritor.
- A presente crônica foi publicado no blog de Leonardo Boff, em 22/02/2015; os grifos são nossos.
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Crédito das imagens
Mar Morto - divulgação viagens.
Flor no gelo - canstockphoto.
Imagem da terra - divulgação NASA.
Seca e Cheia em Pernambuco - JConline.NE10.uol.com.br - Galeria Imagens.
Quaresmeira roxa - www.umpedeque.com.br
Fedegoso amarelo - http://chabeneficios.com.br
Para entender melhor:
Sobre o nome Gaia, dado ao planeta terra: “Na mitologia grega, Gaia é o nome da deusa da Terra, companheira de Urano (Céu) e mãe dos Titãs (gigantes). Gaia é a personificação do planeta Terra, representada como uma mulher gigantesca e poderosa. Em homenagem à deusa grega, a Teoria de Gaia (também conhecida como Hipótese de Gaia) foi criada pelo cientista britânico James E. Lovelock. Nela o cientista descreve o planeta Terra como um organismo vivo, que apresenta algumas características como a atmosfera com química e a capacidade para manter e alterar suas condições ambientais - o que não acontece com outros planetas do sistema solar”.
www.significados.com.br).

Sobre o Sistema Cambriano - Sistema mais inferior do erátema Paleozoico. Na cronologia geológica, diz-se do período durante o qual as rochas desse sistema foram formadas, equivalente ao intervalo de tempo geológico compreendido aproximadamente entre 570 e 510 milhões de anos. (Do dicionário Houaiss, 2ª acepção do verbete "cambriano").
Ao lado, a gravura de um olenoides serratus (Trilobite de 10cm) em Burgess Shale.
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma dessas imagens e deseja que ela seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com
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