Enterrem-me no rio
Perto de uma garça branca
O resto já será meu
E aquela correnteza franca.
Será pátria recuperada
O êxito do fracasso
A graça da chegada.
A sombra-em-cruz da vida
Sob este sol de verdade
Tem a exata medida
Da paz de um homem morto
O tempo é eternidade
E toda a rota é porto!
Batatais - Velório do bispo Pedro Casaldáliga - Foto de Valdemir Moraes.
O Centro de Estudos de História da Igreja América Latina - CEHILA Brasil, divulgou uma carta sobre o falecimento de Dom Pedro, que inicia com um verso do próprio Casaldáliga:
“No final do caminho dirão:
- E tu, viveste? Amaste?
E eu, sem dizer nada,
Abrirei o coração cheio de nomes.”
Segue o texto da carta do CEHILA:
Pedindo à saudade que dê as mãos à esperança, o Cehila-Brasil (Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina - Brasil) se une, neste momento, aos familiares, ao Povo de Deus da Prelazia de São Félix do Araguaia e à Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos). Dom Pedro Casaldáliga foi colaborador e grande apoiador do Cehila. Seu nome é uma ação de graças à Vida. Nesse caminho, Cecília Meireles nos inspira e renova nossa esperança: ‘O vento do meu espírito soprou sobre a vida. E tudo que é efêmero se desfez. E ficaste só tu, que és eterno’.
Amigo e Pastor Pedro Casaldáliga, sua contribuição para o Reino de Deus foi especial. Agora, tocado pela ternura do amor de Deus, viva a festa de sua presença. Segundo José Calderón Salazar jornalista guatemaltec “Nós cristãos não estamos ameaçados de morte. Estamos ameaçados de vida, de amor... ameaçados de ressurreição”. Com a ressurreição de Jesus Cristo, a esperança nos mantém. Que Dom Pedro continue nos inspirando o sonho da “terra sem males” contra ‘todas as cercas’! Cehila-Brasil
Mauro Passos – Presidente
Newton D. Andrade Cabral – Vice-Presidente
Wagner Lopes Sanchez – Secretário
Para os que desejarem conhecer mais sobre a vida do grande pastor, irmão, amigo e missionário que foi Pedro Casaldáliga – seguidor do Cristo no serviço efetivo aos mais pobres, (os mais esquecidos, vulneráveis, perseguidos e marginalizados), com sua voz destemida e sua vida profética sempre que a indiferença, a violência e o desprezo se manifestava em nosso país – reproduzimos abaixo um artigo de Leonardo Sakamoto, colunista do Uol.
Imagem: Jorge
Araujo/Folhapress
Por: LEONARDO SAKAMOTO
RESUMO DA NOTÍCIA
Ø Pedro Calsadáliga, expoente da Teologia da Libertacão, é considerado um
dos mais importantes defensores dos direitos humanos do país.
Ø Foi um dos principais defensores dos povos indígenas e ribeirinhos e dos
camponeses e trabalhadores rurais da Amazônia desde a ditadura militar.
Ø Casaldáliga foi responsável por algumas das primeiras denúncias por
trabalho escravo contemporâneo que ganharam o mundo no início da década de
1970.
Ø Aos 84 anos, teve que deixar sua casa pelas ameaças de morte sofridas em
decorrência do governo ter retirado invasores da terra indígena Marãiwatsédé
Foi dele a primeira denúncia por trabalho escravo contemporâneo que ganhou o mundo no início da década de 1970. Essa mão de obra foi largamente utilizada em empreendimentos agropecuários na ocupação da região, com a cumplicidade dos militares.
Por conta de sua atuação contra a ditadura e a violência de grileiros, madeireiros, garimpeiros e grandes produtores rurais passou boa parte da vida marcado para morrer. Foi alvo de processos de expulsão do país. Poeta e escritor, tornou-se uma das principais vítimas da censura baixada pelos verde-oliva durante os anos de chumbo.
"Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar! Malditas sejam todas as leis amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois, fazerem a terra escrava e escravos os humanos", escreveu.
Para entender o que é a longevidade da luta de Pedro: aos 84 anos e doente, teve que deixar sua casa em São Félix do Araguaia por conta das ameaças surgidas em decorrência do governo brasileiro, finalmente, ter começado a retirar os invasores da terra indígena Marãiwatsédé, Nordeste de Mato Grosso - ação pelo qual ele sempre lutou.
Governos nunca foram competentes para garantir os direitos dos povos indígenas. Agora, temos um que é abertamente contra a demarcação de novos territórios. E Pedro, mesmo enfrentando um Parkinson avançado, manteve-se na trincheira contra a necropolítica.
"Ele conseguiu, pela denúncia intrépida e pelo testemunho arriscado, pela profecia inconveniente, pela poesia cortante, pela mística e pela espiritualidade que encarnava, contagiar a muitos e muitas.
Contagiar a nós da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dos movimentos sociais, lutadores por um outro mundo justo, fraterno e possível", diz frei Xavier Plassat, da CPT. Pedro ajudou a criar ambas as instituições, vinculadas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Foi um dos expoentes da Teologia da Libertação - linha progressista da igreja católica que acredita que a alma só será livre se o corpo também for, que tem sido uma pedra no sapato de quem lucra com a exploração do seu semelhante na periferia do mundo. Na prática, esses religiosos realizam a fé que muitos não querem ver materializada a partir do livro sagrado do cristianismo.
Para traduzir o que ela significa, nada como uma citação atribuída a outro gigante, Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, que também lutou contra a ditadura e esteve sempre ao lado dos mais pobres: "Se falo dos famintos, todos me chamam de cristão, mas se falo das causas da fome, me chamam de comunista.”
Pedro não ensinou que solidariedade significa uma forma distorcida de caridade, como uma política de distribuição de sobras - o que consola mais a alma dos ricos do que o corpo dos pobres. Mas que solidariedade passa por reconhecer no outro e na outra seus semelhantes e caminhar junto a eles. Ou seja, não é doar migalhas, mas compartilhar o pão, produzido com diálogo e respeito. "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar", assumiu Pedro como lema de vida. Tão simples, tão poderoso....
--------------------------------------------------------------------
Fontes das informações:
1.
3. Velório - Imagem de Vlademir Moraes
4. Bispo com um trabalhador local - www.esmaelmoraes.com.br.jpg
5. Imagem do artigo de Leonardo Sakamoto - Foto : Jorge Araújo/Folhapres
6. Bispo Pedro Casaldáliga - www.veja.abril.com.br.jpg
7. Bispo com indio local - www.adufmat.org.br
8. Bispo com um trabalhador rural - www. periodistadigital.com.br.jpg
Nota - As imagens publicadas nesta postagem pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja retirá-la, por favor envie seu comentário.
Nenhum comentário :
Deixe seu comentário: