“Es la hora de partir. Oh abandonado!” – Canta Neruda nos seus “Vinte Poemas de Amor”.
Senhor... Está me ouvindo?/ A linha está ocupada!
Mas
o Senhor quer que eu ligue para onde?/
Dona
Felicidade? / Não responde!”
No cancioneiro da
MPB encontramos inúmeras pérolas do amor não correspondido e das despedidas
de amor. Não caberia neste espaço as letras de João Gilberto, Vinícios de
Morais, Tom Jobim, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Marisa, Djavan,
Jorge Ben Jor, Cássia Eller, Zé Ramalho, Toquinho e do grande poeta Chico
Buarque – para falar daqueles que ainda mantenho na memória do coração.
“Ai, vontade de ficar, mas tendo de ir embora...”
escreve Vinícius de Moraes.
Em Palavras ao Vento, Cássia Eller busca a imagem do amor distante:
“Ando por aí querendo te encontrar / Em cada esquina paro, em cada olhar / Deixo a tristeza e trago a esperança, em seu lugar”.
Em “Eu te Amo”, Chico Buarque canta a dor da separação:
Mais recentemente, em “Tua Cantiga”, Chico
expressa o carinho e o cuidado pela amante distante:
nos tocam fundo:
Não pense
na separação
Não
despedace o coração
O
verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito
Imenso
monolito
Nossa
arquitetura
Quem
poderá fazer
Aquele
amor morrer”...
Letras e canções nos falam da mesma dolorosa sensação de incompletude, que muitos carregam noites sem fim, até que se percebe que amar não é só um sentimento, mas deve se expressar na arte de conviver.
a arte de
conviver...
Simplesmente,
disse eu?
Mas, como é
difícil!”
Não há que se negar a dor da saudade e da perda, nem ignorar o sentimento doloroso e humano da ausência de alguém que se ama.
Mas cabe a todos nós lembrar com mais frequência que o amor não se restrinje a uma pessoal experiência amorosa. Não chegaremos a experimentar a plenitude da vida se ficarmos na nossa própria ilha de amor.
Faz parte fundamental da condição humana coexistir como uma grande família – mulatos, índios, pretos, brancos, pobres, medianos ou ricos, doutorados ou “ainda” não alfabetizados, servidores e artistas, crentes ou não, na condição de aprendizes e mestres, sábios e nativos da terra, gente das artes e das letras, na mais expressiva variedade – uma grande família de diferentes que – por serem iguais e humanos – precisam viver socialmente no amor.
Um grande passo seria cada um começar a experienciar juntar-se com outros, para fazer isto acontecer. O que já está acontecendo, com os “não” que a sociedade tem expressado às violências pessoais e às violentas decisões de um governo desqualificado e incompetente como o que temos hoje no país.
Com tantas diferentes diferenças, somos chamados à responsabilidade da construção da igualdade e da justiça social. Esta é a grande responsabilidade do cidadão, hoje, no nosso país.
A dor do amor (ou a alegria do amor harmonioso e fiel) em nossa vida, pode nos ensinar a participar da grande dor do mundo nos pequenos e grandes gestos de solidariedade e de cooperação.
Lembremos, mais uma vez, o grande testemunho de Pedro Casaldáliga:
- E tu, viveste?
Amaste?
E eu, sem dizer nada,
Abrirei o coração cheio de nomes.”
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Crédito das Imagens:
1. Giselle - www.ttencnet.com.br
2. Chico Buarque - foto do vídeo Tua Cantiga
3. Gilberto Gil - www.glamurana.uol.com.br.jpg
4. Mário Quinana - www.mensagens.culturmix.com.jpg
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