Vanise Rezende - clique para ver seu perfil

RELAÇÕES HUMANAS - CULTURA E DIVERSIDADE

07 dezembro, 2016

Nesses dias encontrei, no facebook, um comentário de Luigino Bruni – do Movimento EdC: Economia de Comunhão – contando que certa vez perguntou a um filósofo africano qual era a sua ideia em relação ao uso do burkini na França. 

O burkini ou burquini é uma expressão que integra a ideia da burca (vestimenta das mulheres islâmicas) com o biquíni. É um traje de praia feminino que só deixa à mostra o rosto, as mãos e os pés da mulher que o veste. O corpo e os cabelos ficam totalmente cobertos.



O africano a quem foi feita a pergunta confundiu a expressão burquini com biquíni e respondeu: – Na África as mulheres nunca usam biquíni na praia, e quem for de topless é arrastada. Luigino comenta, no facebook: “O equívoco, na verdade, me pareceu interessante. O grande tema que se esconde por   trás dessa história  do burkini  é o corpo e, portanto, o corpo das mulheres (qualquer discussão sobre o corpo é sempre, e antes de tudo, uma discussão sobre o corpo das mulheres, por diversas razões).”


Em seguida Maria Sarni, também italiana, faz um comentário: “O maior erro que nós ocidentais cometemos é o de pretender tornar inerente a outras culturas os processos internos surgidos a partir do exterior – mediante ações legais ou militares ou outras – sabendo-se que os nossos presumidos progressos foram concebidos por processos internos que foram desenvolvidos em decênios ou séculos, e muitos ainda se mantêm. 

Os outros só poderiam ser influenciados por contágio, em sua particular via de desenvolvimento. Essa via também pode ser diferente da nossa, o importante é manter a comunicação, não fechar-se à escuta e ao conhecimento recíproco. A intervenção da lei só se justifica diante de evidentes violações da segurança e dos direitos humanos universais”.

À medida que lia esse bate-papo sobre o vestuário de mulheres islâmicas e africanas, fui transferindo o pensar para outro aspecto da vida humana que expressa igual diversidade de cultura, e influencia as compreensões das pessoas. Refiro-me aos “pontos de vista” sobre características de determinadas organizações, projetos, e até questões práticas simplórias.

No meu dia-a-dia percebo que “manter a comunicação, não fechar-se à escuta e ao conhecimento recíproco” também tem a sua complexidade, mas é um exercício extremamente necessário para se poder trabalhar em comunhão, aprender a inovar e a amar.



O exercício da escuta é tão delicado quanto o do dizer e se expressar sobre alguma coisa na comunicação com os outros. A minha "escola" da escuta vem de tempos atrás, ainda quando eu secretariava a presidência da CNBB, na região Nordeste, no período assumido por Dom Hélder Câmara, depois por Dom José Maria Pires que, por ser negro, era chamado Dom Pelé. 


Até hoje guardo a memória da escuta fraterna e profunda de Dom Pelé, que sempre se mostrou cuidadoso e atento nas ocasiões em que se discutia algum assunto importante a ser deliberado. Eu, inexperiente, o espreitava e o admirava na condição de pequena aprendiz... E percebia o quanto me seria difícil chegar àquele comportamento tão sábio e sagaz.

Mas, Dom José Maria Pires também sabia ser fraterno no respeito pelo outro, e especialmente em relação ao papel da mulher, em épocas em que poucos acolhiam a ideia de rever a sua excludente e difícil inserção na comunidade eclesial.

Hoje, todas as vezes que me encontro diante de uma situação que me exige o silêncio e a escuta respeitosa, lembro-me do testemunho daquele caro irmão arcebispo que ainda vive no interior das Minas Gerais.

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Crédito das Imagens:

1. Mulheres na praia - www.brasildelonge.com./tag/acaraje
2. Mulheres africanas - viagemempauta.com.br
3. Mulheres afegãs vestindo burcas - pt.wikipedia.org/wiki/Burca
4. Intercomunicação - imagem de divulgação da filosofia africana Ubuntu
5. Foto de Dom José Maria Pires - Universidade da Paraíba - setembro de 2013, ocasião do título de Doutor Honoris Causa que lhe foi outorgado.

Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma dessas imagens e deseja que ela seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com

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