Continuando "no clima", do que aconte nesses dias em que se reúne, em Paris, a COP-21 - com a representação dos gestores de quase duzentos países, para discutir e definir compromissos conjuntos em defesa do Clima no planeta - trazemos hoje alguns testemunhos dos povos indígenas brasileiros que falam sobre questões ambientais que os atingem.
Reproduzimos um documento do povo Kisêdjê, do estado do Mato Grosso. O texto foi divulgado antes da aprovação, no Congresso Nacional, da PEC-215, ignorando os direitos adquiridos de povos nativos, e considerando que eles são "gente que impede o 'progresso' nacional".
Reproduzimos um documento do povo Kisêdjê, do estado do Mato Grosso. O texto foi divulgado antes da aprovação, no Congresso Nacional, da PEC-215, ignorando os direitos adquiridos de povos nativos, e considerando que eles são "gente que impede o 'progresso' nacional".
Diz o documento do povo Kisêdjê:
“As florestas estão acabando, os rios estão secando, em outros lugares a chuva está inundando as cidades. Em São Paulo as pessoas já estão sofrendo sem água. E elas não estão percebendo o que está causando tudo isso. Os brancos estão provocando os espíritos da natureza, estão destruindo todas as florestas e a natureza. E os espíritos não estão gostando disso, e já começaram a se vingar.
Nós indígenas sabemos disso há muito
tempo, só agora os cientistas de vocês estão descobrindo essa verdade, chamando
de mudança climática. Mas as pessoas que estão ganhando dinheiro com essa
destruição não querem dar ouvidos a isso. Até hoje nós, povos originários
desta terra, existimos, mesmo sem dinheiro ou exploração da natureza.
Sabemos conviver com a natureza,
sabemos respeitá-la, sabemos qual árvore podemos derrubar, sabemos quando e
como podemos mexer na natureza. Temos que respeitar, porque é a natureza que dá
vida para a gente, ela que dá água e comida. Não estamos preocupados com
dinheiro: dinheiro não é peixe nem caça, dinheiro não é agua, não é lugar bom
para viver.
Este mês, a Juventude do Conselho Terena,
reunida em sua III Assembleia Geral, em Mato Grosso do Sul, exigiu,
em carta manuscrita, o respeito e o cumprimento da Constituição Federal, da
Convenção 169 da OIT e de toda a legislação que defende os direitos indígenas.
Eles também manifestaram total apoio à campanha de boicote ao agronegócio no
Mato Grosso do Sul: “Não podemos ser coniventes com essa prática recorrente em
nosso estado, apoiada pela maioria dos políticos e ruralistas, e que tem nos
custado um alto preço: a perda de nossos territórios tradicionais, a vida de
nossas crianças e de lideranças indígenas”.
Na região do Médio Rio
Solimões, no Amazonas, treze povos indígenas - Ticuna, Kambeba, Kokama, Miranha, Kanamari,
Mura, Apurinã, Kaixana, Madija Kulina, Mayoruna, Katukina, Deni e Arara – (dos
municípios de Tefé, Uarini, Alvarães, Fonte Boa, Maraã, Japurá, Juruá, Jutaí,
Carauari e Itamarati), protestaram na cidade de Tefé, e repudiaram a aprovação do projeto da bancada ruralista, que é reconhecida como uma tentativa de "desconstruir o direito dos povos
indígenas no que diz respeito ao reconhecimento das terras indígenas," o que poderá acarretar mais violência na região.
No documento, os índios afirmam que “é preocupante a omissão
e a morosidade do poder público quanto à demarcação e fiscalização dos
territórios tradicionais dos povos indígenas no Amazonas, ocasionando
conflitos fundiários entre estes povos e os não indígenas que possuem interesse
econômico em seus territórios”.
O povo Munduruku também se manifestou: “O governo com seus aliados já mostrou
que só pensa na morte, matando os povos tradicionais, anda de mãos dadas com a
morte, come junto com a morte. Não queremos quem vive assim perto de nós. A
vida de todos os povos tradicionais é a terra, porque nós somos ligados à
mãe natureza, mãe do rio e dos animais. Assim aprendemos com nossos sábios e
mantemos nossa força unida para lutar, sempre informados, alertas, com nossa
própria voz e autonomia”.
Os povos indígenas do Vale do Javari, a região com maior concentração de
povos isolados em todo o mundo – segundo a Fundação Nacional do Índio – são representados
pelos povos Mayuruna, Marubo, Kulina, Matís, Kanamary e Kulina. Ao sair do Congresso, eles declararam:
“Entendemos nitidamente que, ao atender aos interesses econômicos de pequenos
grupos empresariais – com a prática de política clássica acometida ao longo do
processo histórico do país de colonizar os mais fracos – o projeto (aprovado no Congresso Nacional) provoca a
contradição da opinião pública, incitando o ódio e a guerra, nesse tempo de paz
em que vivemos neste país continental chamado Brasil”.
As
terras indígenas do Vale Javari estão localizadas nos municípios de Atalaia do Norte e
Guarujará, no estado do Amazonas, com cerca de quatro mil habitantes. Na reserva há pelo menos
quatro grupos indígenas isolados.
A proposta de emenda constitucional – aprovada, em outubro passado pela Comissão Especial, na Câmara dos Deputados ( a ser votada no Senado) – transfere da Presidência da República para outorgar ao Poder Legislativo a prerrogativa de demarcar terras indígenas, titular territórios quilombolas e criar unidades de conservação ambiental no país.
Para entender melhor: se vingar essa lei, é de se prever que será bem mais difícil a demarcação de novas áreas para esses grupos minoritários do país. É neste sentido que a proposta de emenda constitucional é chamada – pelos povos indígenas – PEC da Morte, PEC do Genocídio e PEC da Violência: uma medida extremamente agressiva contra os povos indígenas do Brasil.
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Créditos Imagens:
1 - Manifesto povos indígenas no Congresso Nacional
- Foto de Mario Vilela/Funai
2 - Votação da PEC-215 no Congresso Nacional - Foto de Letícia Leite - ISA
3 - Juventude Terena - Não à PEC-215 - foto divulgação.
4 - Rio Solimões - Amazonas - Mídia Nina.
5 - Indios do Vale do Javari - Mídia Nina.
6 - Quilombo do Cafundó - interior de São Paulo - National Geographic Brasil Online - Foto de Fábio Nascimento.
1 - Manifesto povos indígenas no Congresso Nacional
- Foto de Mario Vilela/Funai
2 - Votação da PEC-215 no Congresso Nacional - Foto de Letícia Leite - ISA
3 - Juventude Terena - Não à PEC-215 - foto divulgação.
4 - Rio Solimões - Amazonas - Mídia Nina.
5 - Indios do Vale do Javari - Mídia Nina.
6 - Quilombo do Cafundó - interior de São Paulo - National Geographic Brasil Online - Foto de Fábio Nascimento.
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