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FESTA DE SÃO JOÃO

26 junho, 2014

Mês de junho é tempo da Festa de São João, uma celebração nascida no solstício do verão europeu, para comemorar a colheita. O solstício do inverno tropical nordestino é de comemoração da colheita do feijão e do milho, banhada de chuvas, no frio ameno e úmido à espera de um sol tropical em todo o resto do ano, mesmo quando o calendário indicar que é outono ou primavera.

O entusiasmo da Copa do Mundo veio esquentar o ritmo do forró, lembrando os tempos de Jackson do Pandeiro, de Luiz Gonzaga e Dominguinhos, agora com seus inúmeros seguidores, como Nando Cordel e a imbatível Elba Ramalho. No São João nordestino é indispensável o sabor das comidas típicas do milho, brotado nas chuvas de março, o brilho das fogueiras a aquecer no friozinho das noites chuvosas, e o balanço das quadrilhas cada vez mais criativas e coloridas.





E lá vou eu embalada na memória das quadrilhas sertanejas e do casamento caipira, em que não faltava o pai da noiva – um coronel empoderado no seu terno branco - o padre de batina preta, muita vez abobalhado, e o delegado bancando um xerife puxa saco do coronel.  O noivo imitava um caipira imaginário dos áridos rincões, caracterizado de acordo com a desinibida malandragem do comparsa; a noiva se mostrava uma matuta inibida e sonsa, vestida a caráter, com alguma flor nas mãos. Nos diálogos improvisados, não podia faltar alusão à virgindade da noiva e ao interesse do noivo na riqueza do coronel.

Havia ainda as adivinhações que nós, as meninas, fazíamos, para saber qual seria o nosso Príncipe Encantado - olhar uma bacia cheia d´água, para ver, nas suas ondulações, os traços de um rosto desejado... Esconder a vassoura atrás da porta à espera do primeiro homem que ali passasse; a inicial de seu nome seria a letra indicativa do nome do príncipe esperado. 



A quadrilha era animada pelo tradicional trio de tocadores (a sanfona, o triângulo e a zabumba), os pares de dançarinos bem maquiados, com lindas roupas caipiras –atualmente quase sempre carnavalescas – que iam dançando em duas alas ordenadas, com a coreografia orientada por um mestre, aos gritos de alavantu e anarriê, resquícios de antiga dança da corte francesa.  Ainda há o bacamarte, guardando a memória de Lampião, guerreiro do século passado que andava   pelas brenhas do sertão, com a sua Maria Bonita e outros seguidores. 



Hoje, as quadrilhas das capitais e do interior ensaiam durante meses, e já não se vê  o coronel, nem o delegado. O padre substituiu a batina por vestimenta mais chamativa. É a época da disputa global das mais charmosas quadrilhas do ano. Cada uma escolhe a sua coreografia, como em tempos de carnaval; e os seus temas lembram as brincadeiras tradicionais: Mistura de Cor, Levanta Poeira, Bacamarte e Buscapé; outros chegam a ser poéticos, como Luará, Aconchego, Estrela Matuta e Sanfonear. 



O bom da festa é a alegria dos comparsas, o encontro dos amigos, a conversa afiada, a alegria das crianças entusiasmadas com os fogos de artifício, em volta da fogueira, alastrando o céu de rasgos de luz e de estrelas empoeiradas de fumaça. 


Em lugar do quentão do sul, a cerveja gelada ou um vinho suave para acompanhar as comidas adocicadas – o sabor delicioso da canjica e da pamonha (um creme feito da massa do milho, temperado com leite de coco e açúcar, encartado na palha do milho e cozido na água), dos bolos de milho e de macaxeira, do Pé de Moleque e do Souza Leão, nossas marcas registradas. A espiga de milho e o queijo coalho, cortados em grossos pedaços, são enfiados em pauzinhos roliços, e assados na brasa ardente da fogueira.

Nos velhos tempos, a fogueira devia ser bem alta para que durasse em chamas; amigos sulistas me ensinaram que é melhor acender o fogo com gravetos ajuntados no cume da fogueira, e não de baixo para cima, como se fazia no sertão. Assim, a fogueira vai se queimando mais devagar.

As festas de São João também guardam lindas histórias dos primeiros sussurros de amor, como aconteceu comigo, há anos atrás, quando me enamorei do pai de minhas filhas, que já partiu. Tudo tão simples, no embalo das letras poéticas do forró de Luiz Gonzaga, um encontro que durou pouco mais de vinte e quatro anos. Quando bate a saudade, entoo uma doce cantiga do sábio Gonzagão:                                              
                                                           
                                                             


Olha pro céu meu amor
Vê como ele está lindo!
Olha pra aquele balão multicor
Como no céu vai subindo...
Foi numa noite, igual a essa,
Que tu me deste o coração
O céu estava assim em festa
Como uma noite de São João.
Havia balão no ar...
Xote e baião no salão
E no terreiro o teu olhar
Que incendiou meu coração!







Imagens:   

 1. Quadrilha na Finlândia - Wikipédia
 2. Artesanato - São João - Wikipédia
 3. Trio Nordestino - foto de Clemilson Campos - JC Imagem -2014
 4. Quadrilha Sanfonear, de Tamandaré - foto Mariana Frazão/Globo Nordeste
 5. Comidas Típicas de São João - www.paraiba.com.br/2014
 6. Luiz Gonzaga - www.ebc.com.br








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