--------------------------
A
Ordem Mundial atual é a maior desordem mundial.
É preciso desarmar a razão armada
Artigo
de: Adolfo Pérez Esquivel
Publicado em: Chiesa di tutti, Chiesa dei Poveri (11/05/2022)
Tradução de: Moisés Sbardelotto, (IHU).
A paz não
se dá, se constrói, é preciso muita coragem e sabedoria para alcançá-la. É
urgente “desarmar a razão armada”, tornar possível o impossível, “transformar
as armas em arados” (Isaías).
A opinião é de Adolfo Pérez Esquivel,
ativista argentino e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em artigo
publicado por Chiesa di tutti, Chiesa dei Poveri, 11-05-2022. A
tradução é de Moisés Sbardelotto.
Segundo ele, "é um erro
encurralar a Rússia com sanções
comerciais, censurar sua cultura e seus esportistas, e suspender a
Rússia da Comissão de Direitos Humanos da ONU, e
guardar silêncio sobre as atrocidades e violações dos direitos
humanos dos povos cometidas por aqueles que votaram a favor
das sanções contra a Rússia. O Evangelho diz: 'Aquele que não tiver culpa que
atire a primeira pedra'”.
"É preciso que os governos tenham valores éticos e coragem para não se degradar e cair na hipocrisia." - afirma o Prêmio Nobel da Paz - "Os povos não podem ficar indiferentes e como espectadores da tragédia que a humanidade vive. É necessária a rebeldia para evitar que sejamos arrastados para outro holocausto. Como diz o antigo provérbio, 'a noite mais escura é quando começa o amanhecer'”.
Eis o artigo.
---------------------------------------------------
A humanidade vive tempos de
incerteza. Os avanços
tecnológicos e científicos aceleraram o tempo que
muda a realidade, onde o presente condiciona o futuro, e é preciso ter a
consciência de que colhemos o que semeamos. A corrida
armamentista infelizmente é uma realidade. Buscam
segurança, cada dia mais insegura.
A tragédia de Caim e Abel volta
a se desencadear através do tempo sem tempo. As sagradas escrituras nos mostram
o caminho que Deus deu ao ser humano, a “liberdade”, e é este quem decide o
caminho a seguir, entre luzes e sombras. A humanidade sofre 25 guerras em
diversas partes do mundo, como a da Ucrânia e da Rússia, em uma
escalada cada vez mais perigosa e sangrenta, com o perigo de que se desate
uma guerra
nuclear.
A Segunda Guerra
Mundial marcou para sempre a vida planetária. As bombas atômicas lançadas
sobre Hiroshima e Nagasaki foram
determinantes para o mundo, que deixou de ser o que era. E, ainda com as
feridas sangrando, outras guerras e conflitos se somaram, com total desprezo à
vida humana.
Esqueceram o que foi vivido
e sofrido? É como um espelho quebrado em mil pedaços. Esqueceram o Holocausto,
os campos
de concentração, os milhões de mortos? Esqueceram a Guerra
do Vietnã, a guerra entre Israel e Palestina,
como outras mais que se somaram à tragédia da humanidade? É urgente ouvir o
clamor dos povos e chamar as novas gerações a fazerem memória.
É preciso optar entre “a bomba
ou a Vida”. Para optar pela Vida, os povos devem se rebelar e não permitir que
os submetam e dominem, devem se assumir como protagonistas de suas próprias
vidas e construtores de sua história.
Apagou-se o farol da
misericórdia e da dignidade, mergulharam a humanidade no
obscurantismo, na incerteza e na dor, violando os direitos da pessoa e dos
povos.
Os irresponsáveis têm rostos
e levam em suas testas e almas o selo da besta 666, vão destroçando vidas,
povos, negam-se a ver os rostos de homens, mulheres, crianças que questionam e
interpelam e reivindicam um lugar digno para viver em paz. Estão cegos pela
soberba do poder e do ódio, e buscam justificar o injustificável.
Quem são os responsáveis pela guerra entre Ucrânia e Rússia? Putin, Zelinsky? É preciso ver mais a fundo e expor o manejo sinistro do poder de dominação mundial dos Estados Unidos, da União Europeia e da Otan que, de forma direta e indireta, já estão envolvidos na guerra. Os povos da Europa devem acordar e não ser um satélite dos Estados Unidos e da Otan que os arrastam para o desastre.
A Rússia deve
parar a guerra, estabelecer uma trégua conjuntamente
com a ONU, nomear uma comissão de mediação internacional para alcançar
fronteiras seguras e não ser devorada. Essa decisão não pode ser unilateral,
deve ser compartilhada pelas potências envolvidas na guerra e gerar espaços de
diálogo e soluções justas para as partes.
A Ordem Mundial atual
é a maior desordem mundial.
A Ucrânia é
o peão no tabuleiro do poder das grandes potências, seu povo é vítima da
guerra. Não lhes interessam os mortos, os refugiados, a
destruição das cidades. É preciso alimentar a guerra com mais armas e dinheiro.
A Besta não se sacia com o sangue derramado, exige cada vez mais.
Os Estados Unidos e
a Otan em sua voracidade de dominar o mundo buscam impor a sua
política, econômica e militar, e destruir seus oponentes. A realidade ensina
que as grandes potências não têm amigos nem aliados, têm interesses, basta ver
o seu modo de agir no mundo.
A Europa perdeu
identidade e valores, e depositou o seu destino na Otan. Os povos
devem saber que nenhum exército é garantia da paz.
Nesse confronto, as ameaças
e perigos crescentes de uma guerra nuclear afetam todos os países,
grandes e pequenos, ricos e pobres. As distâncias não importam e colocam o
mundo no limite da existência planetária. Todas as potências envolvidas
possuem armas
nucleares e estão dispostas a utilizá-las sem medir as
consequências.
É um grave erro considerar
a Rússia como “um urso com rugido de rato” e a China como
um “tigre de papel”.
O farol da ONU permanece
apagado, é preciso ajudá-lo a despertar e voltar a acendê-lo para que ilumine a
humanidade antes que seja tarde demais. Em outras notas, eu assinalei que
“todos sabem como as guerras começam, ninguém sabe como terminam”. Não é
possível que os governos gastem recursos para enviar armas para
a Ucrânia para aumentar o conflito e não tenham coragem
de apresentar alternativas para pôr fim à guerra, e que tudo dependa das
decisões dos Estados Unidos.
A paz não se dá, se
constrói, é preciso muita coragem e sabedoria para alcançá-la. É urgente
“desarmar a razão armada”, tornar possível o impossível, “transformar as armas
em arados” (Isaías).
Muitas vozes no mundo exigem o fim das guerras que afetam a humanidade e a urgência de somar esforços e recursos para combater a fome, a pobreza e a desigualdade social. Vozes que não são ouvidas por governos irresponsáveis e pelos meios hegemônicos de comunicação.
A solução é política. Os
povos sofrem a violência dos governos que os arrastam para a guerra. É urgente
a unidade na diversidade e ser protagonistas, levantar e assumir a proclamação
da ONU em 1945: “Nós, os povos das nações unidas resolvidos a
preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no
espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade...”
É um erro encurralar
a Rússia com sanções comerciais, censurar sua cultura e seus
esportistas, e suspender a Rússia da Comissão de Direitos
Humanos da ONU, e guardar silêncio sobre as atrocidades e violações
dos direitos humanos dos povos cometidas por aqueles que votaram a favor das
sanções contra a Rússia. O Evangelho diz: “Aquele
que não tiver culpa que atire a primeira pedra”.
É preciso que os governos
tenham valores éticos e coragem para não se degradar e cair na hipocrisia.
Os povos não podem ficar
indiferentes e como espectadores da tragédia que a humanidade vive. É
necessária a rebeldia para evitar que sejamos arrastados para outro holocausto.
Como diz o antigo provérbio,
“a noite mais escura é quando começa o
amanhecer”.
-------------------------------------------
Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/618506-desarmar-a-razao-armada-artigo-de-adolfo-perez-esquivel - 12.05.2022
Crédito Imagens:
1. Quadro de Adolfo Pérez Esquivel - www.brasildefato.com
2. racismoambiental.net.br.jpg
3. www.brasil.espaís.com.jpg
Nenhum comentário :
Deixe seu comentário: