A REAÇÃO DO ESCRITOR MIA COUTO
PRÊMIO CAMÕES EM 2013
No início desse mês de outubro, em meio aos preciosos aplausos no Brasil, em toda a América Latina e em vários países de além-mar, um fato extremamente dissonante tentou ferir a nossa alegria da nomeação de Chico Buarque para receber o Prêmio Camões-2019.
Na sua rançosa ignorância, o presidente brasileiro – que vem nos envergonhando por muitas outras relevantes razões mundo afora – deu a entender à imprensa que negaria a sua assinatura no diploma de concessão do Prêmio Camões a Chico Buarque.
Ao tomar conhecimento desse fato, Chico Buarque – com a sua característica perspicácia política e a dignidade que nele há muito conhecemos – comentou a notícia na sua conta oficial do Instagram, dizendo que “a não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prêmio Camões”.
O Portal Mundo Lusíada publicou que, quando
Chico foi anunciado vencedor do
Prêmio Camões 2019, por unanimidade, em 21 de maio deste ano, na Biblioteca Nacional do Brasil, no
Rio de Janeiro, o presidente português Marcelo Rebelo de Souza, postou uma
nota no portal da Presidência da República, “reconhecendo o romancista de
‘Estorvo’ e ‘Budapeste’, o dramaturgo e argumentista, mas também o
extraordinário escritor de canções”.
Ainda na internet, o estadista português – de acordo com o portal Mundo Lusíada – considerou que, ao premiar Chico Buarque, o júri do Prêmio Camões “reconheceu, naturalmente, também o extraordinário escritor de canções, um dos maiores da língua portuguesa”. E finaliza: “Premiar ‘letristas’ pode ser sujeito a discussão, mas premiar Chico Buarque só pode ser unânime, porque, tal como Bob Dylan, para a língua inglesa, (a quem fora atribuído o Nobel da Literatura) as canções de Chico traduzem um profundo conhecimento da tradição poética e um alargamento das fronteiras da linguagem musicada, trazendo um grau de sofisticação inédito à música que se diz, e bem, popular”.
Por sua vez, o primeiro-ministro português, António Costa, escreveu no Twitter: “Saiba
que estamos em festa, pá”, e fala de Chico Buarque como o poeta de sambas e
canções que os portugueses sabem de cor, “romancista que reserva à linguagem a
sua maior atenção”. E finaliza: “Junto-me à alegria de ver Chico Buarque ganhar
o Prêmio Camões 2019”.
Recentemente, de acordo com a redação do Mundo Lusíada, o Ministério da Cultura de Portugal garantiu que “a cerimônia de entrega do Prêmio Camões a Chico Buarque realizar-se-á em Portugal, conforme ditam as regras”. Apesar de ainda não definida, a concessão oficial do prêmio estaria prevista “para abril 2020, na sequência do desejo manifestado pelo músico de o receber nessa altura”.
Recentemente, de acordo com a redação do Mundo Lusíada, o Ministério da Cultura de Portugal garantiu que “a cerimônia de entrega do Prêmio Camões a Chico Buarque realizar-se-á em Portugal, conforme ditam as regras”. Apesar de ainda não definida, a concessão oficial do prêmio estaria prevista “para abril 2020, na sequência do desejo manifestado pelo músico de o receber nessa altura”.
O grande escritor e poeta moçambicano Mia
Couto, tão conhecido e admirado no Brasil – e que em 2013 recebeu o prêmio Camões – conta-nos,
na reportagem que reportamos abaixo, o que lhe inspira o comentário do inexpressivo presidente do Brasil.
-------------------------------------------------------------------
Mia Couto vai encabeçar ação contra posição de
Bolsonaro face ao
Prêmio Camões a Chico Buarque
Por: Redação “Mundo Lusíada” - 11/10/2019
O escritor moçambicano Mia Couto afirmou,
no dia 10 de outubro, que já solicitou a lista dos vencedores mais recentes do Prêmio
Camões, para convidá-los a tomarem uma posição conjunta contra a indicação do atual
presidente brasileiro de que poderá não assinar o diploma do prêmio anunciado
este ano para Chico Buarque.
Em entrevista à Lusa, o escritor
moçambicano – vencedor do Prêmio
Camões em 2013 e muito querido entre os brasileiros – disse que mal tomou conhecimento das
declarações de Jair Bolsonaro, foi imediatamente “assaltado pela vontade de
tomar uma atitude”.
Na quarta-feira, o Presidente brasileiro deu a entender que não assinará o diploma do Prêmio Camões concedido ao compositor e escritor Chico Buarque, afirmando aos jornalistas que assinaria “até 31 de dezembro de 2026”, data que remete para o final de um segundo mandato presidencial, caso fosse reeleito em 2022.
Em resposta, Chico Buarque, defensor da política petista do ex-presidente Lula da Silva, afirmou que uma eventual não assinatura de Bolsonaro do diploma era para ele “um segundo Prêmio Camões”.
Em resposta, Chico Buarque, defensor da política petista do ex-presidente Lula da Silva, afirmou que uma eventual não assinatura de Bolsonaro do diploma era para ele “um segundo Prêmio Camões”.
Comentando o sucedido, Mia Couto começou
por “saudar” a resposta do músico e escritor, considerando-a “genial”,
afirmando de seguida a sua intenção de contactar os “colegas que foram Prêmio
Camões” para fazerem uma “declaração conjunta contra a imbecilidade desse tipo
de atitude”.
“Soube hoje [desse episódio], e a minha
ideia é – como eu não posso fazer isso sozinho – pedir ao secretariado do
Prêmio Camões que me dê os contatos das pessoas de maneira que a gente tenha
uma postura conjunta”.
A justificação do escritor é não só a “ligação
muito particular” que tem com Chico Buarque, mas sobretudo o sentir que “é o
Prêmio Camões que está a ser agredido, a liberdade de criar”.
“Ficarmos calados seria uma coisa
inaceitável, por isso vou telefonar a saber se o secretariado do Prêmio Camões
me pode ajudar a contactar, e fazermos um manifesto conjunto contra isso”,
reiterou.
A este propósito, Mia Couto lamentou a
situação política e cultural vivida atualmente no Brasil, país de onde
regressou recentemente e onde foi distinguido com o título de Doutor Honoris
Causa pela Universidade de Brasília.
“Eu venho do Brasil e venho muito
preocupado com essa subida de tom do lado autoritário da censura, a maneira
como os livros estão a ser retirados das escolas, uma coisa completamente antiética.
Não é só o Bolsonaro, estava ali um Brasil fabricado pelas Igrejas evangélicas,
de que não dávamos conta”, afirmou à Lusa.
Como exemplo, contou a história de uma
escola que visitou, em que “os pais mandaram retirar um livro infantil do Jorge
Amado, porque tinha uma ilustração em que aparecia uma vaca e se viam as tetas
da vaca”.
“A gente pode pensar que é o Jorge Amado,
que querem agredir o Jorge Amado, mas não. É uma coisa tão idiota que não tem
limite”, considerou, acrescentando: “É assustador porque apela a coisas tão
primárias, tão fora daquilo que a gente pensa, que já passamos essa página”.
-----------------------------------------------------------------------------------------Fontes
das informações:
Ver também:
Crédito das Imagens:
1. Chico Buarque é visto em 220 imagens na fotobiografia 'Revela-te, Chico' — Foto: Leo Aversa / Divulgação
1. Chico Buarque é visto em 220 imagens na fotobiografia 'Revela-te, Chico' — Foto: Leo Aversa / Divulgação
In: www.diariodocentrodomundo.com.br.jpg
3. Imagem Chico Buarque - www.metro1.br-noticias-cultura-73823.jpg
4. Imagem Mia Couto - reproduzida da reportagem do portal Mundo Lusíada.
Nota: As imagens aqui postadas pertencem aos respectivos autores. Se algum deles não estiver de acordo com a sua reprodução neste espaço, por favor comunique-se conosco, fazendo um comentário nesta postagem.
Nenhum comentário :
Deixe seu comentário: