A
celebração do Dia Mundial da Mulher –
que no ano passado alcançou o seu
centenário – cada vez mais
manifesta o reconhecimento
do vigor, da sensibilidade,
do compromisso político e da
resistência da mulher brasileira que,
nesses dias, comemorou a oportuna
reação da cantora Daniela Mercury
ao vídeo divulgado pelo aposto presidente
do Brasil, fazendo comentários desdenhosos
à canção "Proibido o Carnaval", com a
parceria de Caetano Veloso.
que no ano passado alcançou o seu
centenário – cada vez mais
manifesta o reconhecimento
do vigor, da sensibilidade,
do compromisso político e da
resistência da mulher brasileira que,
nesses dias, comemorou a oportuna
reação da cantora Daniela Mercury
ao vídeo divulgado pelo aposto presidente
do Brasil, fazendo comentários desdenhosos
à canção "Proibido o Carnaval", com a
parceria de Caetano Veloso.
Ao lado das grandes expressões culturais
do nosso país, compartimos o mesmo
sentimento de resistência. Para
expressá-lo, nada melhor do que
o texto de um padre cantor carioca -
carinhosamente chamado padre Gegê -
que nos levanta o ânimo diante da
vergonha de brasileiras e brasileiros,
pelos vexames que o nosso país vem passando aqui e lá fora.
do nosso país, compartimos o mesmo
sentimento de resistência. Para
expressá-lo, nada melhor do que
o texto de um padre cantor carioca -
carinhosamente chamado padre Gegê -
que nos levanta o ânimo diante da
vergonha de brasileiras e brasileiros,
pelos vexames que o nosso país vem passando aqui e lá fora.
No
seu texto, padre Gegê aprofunda e ratifica os nossos
aplausos à inteligente e brilhante passagem da Estação
Primeira da Mangueira, escola de samba carioca que
homenageou Marielle Franco, cuja trágica morte será
rememorada no dia 14 deste mês.
aplausos à inteligente e brilhante passagem da Estação
Primeira da Mangueira, escola de samba carioca que
homenageou Marielle Franco, cuja trágica morte será
rememorada no dia 14 deste mês.
Padre
Gegê afirma que a Mangueira nos ofereceu “uma ferramenta
potente na ordem da
resistência e do enfrentamento, porque,
‘no som do seu tamborim e no rufar do seu tambor’ ensina
que a história do negro tem que ser contada pelos negros,
a dos índios pelos índios, a das mulheres pelas mulheres"...
‘no som do seu tamborim e no rufar do seu tambor’ ensina
que a história do negro tem que ser contada pelos negros,
a dos índios pelos índios, a das mulheres pelas mulheres"...
Segue
o texto.
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O SAMBA
DA MANGUEIRA (2019) E “O PERIGO DA HISTÓRIA ÚNICA”
Por:
Padre Gegê
Dentre
os belos sambas deste ano, destaco de modo muito singular o samba-enredo da
Estação Primeira. Para além dos binarismos de oposição do tipo “esquerda/direita”,
a Mangueira oferece um caminho de revolução histórica a partir do legado
africano ancestral que, necessariamente, implica na oralidade; logo, no
saber/poder de “contar”. E contar é
fazer memória; contar é não esquecer; contar é disputar narrativas; contar é
transgressão;
contar é assumir protagonismos!
contar é assumir protagonismos!
Nesse
horizonte, a Mangueira oferece uma ferramenta potente na
ordem da resistência e do enfrentamento, porque ‘no som do seu
tamborim e no rufar do seu tambor’ ensina que a história do negro
tem que ser contada pelos negros, a história dos indígenas pelos
indígenas, das mulheres pelas mulheres...
ordem da resistência e do enfrentamento, porque ‘no som do seu
tamborim e no rufar do seu tambor’ ensina que a história do negro
tem que ser contada pelos negros, a história dos indígenas pelos
indígenas, das mulheres pelas mulheres...
Contar
a própria história é um
ato político por excelência.
Nesse sentido, a Mangueira
ato político por excelência.
Nesse sentido, a Mangueira
dialoga com a escritora nigeriana
Chimamanda Ngozi que fala
do “perigo de uma história única”.
Diz a
escritora: “É impossível falar
de única história sem falar sobre
poder”.Não permitir que o outro
conte sua própria história é
destruir o outro enquanto sujeito.
de única história sem falar sobre
poder”.Não permitir que o outro
conte sua própria história é
destruir o outro enquanto sujeito.
Chimamanda termina assim sua
fala: “Quando nós rejeitamos
uma única história,
quando percebemos que nunca há apenas
uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo
de paraíso”.
uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo
de paraíso”.
Acredito
que o samba da Mangueira propõe exatamente isto:
reconquistar “um tipo de paraíso”. E esse paraíso passa pela
memória feita pelos seus protagonistas.
reconquistar “um tipo de paraíso”. E esse paraíso passa pela
memória feita pelos seus protagonistas.
Não há
história neutra. Marielle, por exemplo, lida por um lugar de poder é considerada defensora de bandidos, mas por outro lugar de poder é considerada
defensora dos direitos humanos; Lula da mesma forma, tanto pode ser lido como
bandido preso quanto por preso político. A libertação da escravatura, na mesma
perspectiva, pode ser lida como fruto da bondade da princesa branca ou como
processo de luta da população negra.
A
Mangueira, então, provoca perguntas seríssimas para a atualidade: de que lugar de poder você lê a história? A história que você ouve e conta é a versão do caçador
ou a versão do leão? A propósito, adverte um provérbio africano: “Até que os leões inventem as suas próprias
histórias, os caçadores serão sempre os heróis das narrativas de caça”.
Parabéns
e obrigado, Estação Primeira da Mangueira.
Só o Samba poderia, com afroternura, chamar um Brasil
tão regredido em suas potencialidades civilizatórias
Só o Samba poderia, com afroternura, chamar um Brasil
tão regredido em suas potencialidades civilizatórias
de “meu nego” e “meu dengo”. E, desse jeito carinhoso
e familiar, o samba o chama a rever sua história a partir
dos que o sistema de poder quer ocultar e silenciar.
e familiar, o samba o chama a rever sua história a partir
dos que o sistema de poder quer ocultar e silenciar.
A
Mangueira insiste: “Brasil, chegou a vez
de ouvir as Marias, Mahis,
Malês,
Marielles". E isso é revolucionário... O
SAMBA tem dessas coisas...
Malês,
O SAMBA tem muito a ensinar, inclusive à esquerda. O
SAMBA tem a
afropotência extraordinária de, muitas vezes, falar de revolução sem
falar de revolução!!!
falar de revolução!!!
Contemos,
pois, nossas histórias; resgatemos nossos heróis e heroínas,
reconquistemos
nossos paraísos, assumamos, de fato, coletivamente,
nosso Brasil com nome de Dandarra e rosto de Cariri. E que possamos,
assumindo nossos compromissos históricos, com alegria democrática de
um carnaval sem fim, poder chamar todos os dias esse
Brasil pluriversal
de “meu nego” e “meu dengo”.
Veloso no contexto do assassinato
de Moa do Katendê – “não
pode ser reduzido a essa coisa
bárbara”. Sob as lentes da
ancestralidade africana não se faz
política e tampouco revolução sem
cafuné, sem
dengo e sem chamego.
E o Brasil carece de cheiro no
cangote!
cangote!
Mais
uma vez, parabéns Mangueira! Como uma preta velha, a
Estação Primeira da Mangueira bota o Brasil no colo, o chama de
“dengo” e o ajuda a ouvir “histórias que os livros não contam”.
Estação Primeira da Mangueira bota o Brasil no colo, o chama de
“dengo” e o ajuda a ouvir “histórias que os livros não contam”.
Da
minha parte, nunca vi Jesus na goiabeira, mas, certamente,
o verei desfilando sorridente na MANGUEIRA!
o verei desfilando sorridente na MANGUEIRA!
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(*) Recebi esse texto de autoria do padre Gegê que me foi enviado por uma amiga confiável, via WhatsApp.
Não consegui encontrá-lo na sua página do Facebook, nem do YouTube. Mas quero parabenizá-lo por tanta competência e sensibilidade. De um registro no YouTube, sei que o padre Gegê canta ao seu violão na igreja, durante as celebrações. E certamente "conta" essa história a partir da sua ascendência afro.
Sobre a Mangueira, registro ainda o que uma cara amiga, Márcia Couto, comenta no Facebook: “...pelas mãos e pés dos seus integrantes na avenida, pelo samba enredo, pela dignidade, ganhamos. Ganhamos esperança e afirmamos a certeza de que não resistimos em vão!”
Crédito
das Imagens:
1. Mulher e mãe - fotografia de um belo painel, numa pousada na Paraíba, vizinha de um Quilombolas.
2. Desfile da Escola de Samba da Mangueira, foto
divulgada no Facebook.
3. Chimamanda Ngozi - escritora nigeriana - www.portalraizes.com
4. Marielle Franco - www.justificando.cm.br
5. Moa do Katundê -
www.jconline.ne.10.uol.br/noticia/mundo/brasil/notícia/2018/10/09-conheca-moa-do-katende-artista-morto-durante-discussao-sobre-política-
www.jconline.ne.10.uol.br/noticia/mundo/brasil/notícia/2018/10/09-conheca-moa-do-katende-artista-morto-durante-discussao-sobre-política-
Nota - As imagens aqui reproduzidas pertencem aos seus autores. Se algum deles deseja registrar o seu nome ou retirá-la deste espaço, favor nos alertar em um comentário.
Muito bem minha atleta!
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