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VANISE REZENDE - MEU GRACIAS A LA VIDA!

15 maio, 2018




Há poucos dias, alguém me enviou um vídeo com a música “Petrolina e Juazeiro”, de Jorge de Altinho. Eu estava sozinha, circulando entre a cozinha e a mesa de refeições, a preparar o meu café da manhã. Aquele forró animado era muito convidativo para quem, como eu, sempre gostou de dançar. Fiquei me remexendo, rodopiando pela sala, tão feliz que pedi bis ao meu celular.

A vida foi generosa comigo: mantive a minha fé primeira. O aprendizado - que até hoje me leva ao exercício da sobriedade e do olhar aberto para a dor do mundo - me chegou naturalmente, na convivência com Ester Pires, minha mãe, nascida em 1910. A sua atenção era voltada para quem lhe estava junto. Era alegre, amável e inteligente. Estou sempre a lhe repetir a minha gratidão, a ela que me gerou e me cuidou, junto ao meu pai, Manoel Marinho, e com os seis irmãos muito queridos. Assim, minha infância cimentou a mulher que sou agora, com maiis de 80 anos.

às vésperas de entrar na faculdade, tomei uma séria decisão na vida - fui para a Itália, onde estudei, trabalhei na Radio Vaticana e conheci  Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, que disseminou e testemunhou  uma espiritualidade cristã propulsora de inovação e compromisso. Tive a oportunidade de encontrá-la em diferentes circunstâncias e decidi seguir a sua mensagem. Eu tinha 20 anos. Foi uma grande circunstância, que pouco a pouco me levou a me abrir para a dor do mundo: quantos homens e mulheres tocaram a minha profundez, e ainda tocam – com suas vidas exemplares de compaixão e de solidariedade, na  concretude do amor que se importa com os empobrecidos e injustiçados de todas as latitudes.

Hoje, passeando pelas minhas memórias, sinto-me agradecida à Vida por tanto que me foi dado, e ainda me gratifica. Vou copiar o poeta e músico Vinícius de Moraes, para saudar à vida com tudo o que conheci e carrego no coração.  

Saravá! – digo eu, agora, soltando a imaginação: Saravá a Ester Pires e a Chiara Lubich, minhas grandes mães! Saravá aos ilustres e admiráveis amigos que me ajudaram a aprender a vida na liberdade e no amor: o o meu pai, Né Marinho e meu avô de tantas aventura de infância, Virgulino Fereira de Brito. Na juventude, o filósofo brasileiro Zeferino Rocha e o senador e escritor italiano Igino Giordani, além dos sacerdotes italianos Dom Foresi, Marco Tecilla e Silvano Cola. Mais tarde, o poeta brasileiro Heleno Oliveira e o inesquecível amigo sociólogo Herbert de Souza, o nosso Betinho, com quem aprendi a ampliar o olhar social para além do Brasil. De mulheres, são tantas e tão queridas, que apenas sito duas que já se foram:  Marluza Correia de Brito - a Mara cooperante com os guerrilheiros, na ditadura militar e a amiga de todos os momentos; e a doce Simonetta, italiana, em cuja casa me hospedei por um período na Italia.   

Saravá a Iemanjá – a Senhora dos Mares, e rainha da cultura afro-brasileira. Saravá à Mãe Menininha (de quem recebi a bênção um dia, na magia do seu terreiro, em Salvador, na Bahia). Ah, quanto precisamos dessas preciosas bênçãos, para resistir contra as maldades e mentiras do nosso dia a dia, no Brasil!  

Saravá aos heróis Ganga Zumba, e Zumbi dos PalmaresAndré Rebouças, José do Patrocínio e à inesquecível Chiquinha Gonzaga, entre os tantos  que lutaram na resistência dos escravos do nosso país. Saravá aos milhares dos Sem Teto e dos Sem Terra de onem e de hoje, e às centenas de crianças e velhinhos abandonados, sem carinho nem cuidados. 

Saravá aos povos nativos do Brasil - os poucos que sobreviveram à dizimação dos nossos "donatários", e ainda sofrem a fúria dos colonizadores de hoje, neste país entregue aos exploradores da Amazônia, aos senhores de terras improdutivas e aos insasiáveis banqueiros - usurpadores das taxas sociais devidas ao país, por indevidos representantes de uma pátria que não deveria ser tão gentil e ignara!

Saravá a Mahatma Gandhi  o elegante advogado inglês que se uniu aos povos indianos, escolhendo o outro lado da história para ajudá-los a se libertar da colonização.

Saravá ao jovem médico andarilho Ernesto Guevara  mais conhecido como Che Guevara  que um dia se posicionou na luta pelos direitos dos pobres da América Latina,  Saravá!!!  

Saravá ao político africano Mandela, que anos depois se tornou-se o presidente da África do Sul, com o apoio da mulher que amava, concorrendo para a inclusão dos negros na história do seu país.

Saravá ao corajoso americano Martin Luther King, um homem que, em tempos difíceis, foi um mártir na luta pela  igualdade de direitos dos povos negros, no seu país.

Nas grandes histórias de luta, não se pode esquecer a longa caminhada por justiça e liberdade do povo da Síria,  da população sofrida do Haiti e de muitos outros esquecidos e injustos ou injustiçados países do Sul, como a Eritrea. Saravá a todos eles, que continuam açoitados pela dominação, pela fome e pela guerra. 

Saravá a todos os irmãos e irmãs do universo, emigrantes e refugiados, evadidos de sua pátria, enxotados de seu país por inúmeras situações de dominação e violência. 


E, por fim, um Saravá especial à democracia cambaleante do Brasil,  violada pela farsa da política e de uma maldita (in)justiça, que bambeia nas convenções de seus algozes ferrenhos e de instituições republicanas também cambaleantes e irresponsáveis. 

Algozes, sim, porque são muitos os que eles perseguem e os que gozam das benesses de seus malfeitos. Agem enrodilhados de preconceitos, violências e mentiras. Embora as multidões mantenham firme a esperançada luta democrática. Saravá!

Saravá ao Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel;  Saravá ao destemido ítalo-brasileiro, escritor e teólogo  Leonardo Boff e ao notável e inesquecível amigo Herbert de Souza, o nosso Betinho. Saravá! 

E um especial Saravá ao carismático ex-metalúrgico e ex-presidente do Brasil,  Lula da Silva, apreisionado pelo medo   da preferência do povo para fazê-lo voltar à presidência do Brasil. E ao seu igualmente inesquecível colaborador  Celso Amorim, um dígno representante do Brasil dos tempos em que tínhamos orgulho de ser brasileiros. Saravá!

Saravá à minha família e ao carinho que nos une. E um Saravá especial aos amigos encontrados no correr da vida. Ontem e hoje nos acarinhamos, nos respeitamos, e nos completamos em muitas variações! E desses, a presença dos que já se foram. Saravá!

Ainda não falei dos raros e grandes amores. Saravá aos homens que amei e ainda amo, cada um no seu tempo, por linhas retas e entortadas, em algum feliz acaso, ou por uma escolha fiel. Cada um com um lugar especial nesse coração que ainda pulsa e ama. Saravá! 

E, dulcis in fundo, a minha imensa gratidão à vida pelo que aprendi e ainda aprendo, numa vida fecunda, ao lado de companheiros maiores, no  compromisso da fraternidade e da justiça no mundo. Saravá!

Assim é o outono da vida: banhado nas chuvas das boas lembranças, e resvalado no inverno de trovejadas tenebrosas, enfrentadas com o apoio dos amigos da caminhada. 



Créditos das Imagens:

1 - https://www.tourinhos.com.br/noticias/1570/inscricoes-abertas-para-oficina-de-anca...
2 - Blog Espaço Poese - Arquivo imagens
3 - Iemanjá - CEJV - www.cejv.com.br/site/endex.pjp/os-orixas/iemanja/
4 - Povos Indígenas - https://www.revistaepoca.globo.com
5 - Che Guevara - https://br.pinterest,com/pin
6 - Palestina - www.cgtp.pt
7 - Divulgação: www.terradedireito,org.br.jpg
8 - Foto divulgação/Twitter/LindenbergFarias: Leonardo Boff, Adolfo Perez Ezquivel e Celso Amorim - 2018.   

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