Já começamos a ver esvair-se, no dia a dia, a contagem regressiva do
tempo de 2018. Voltamos aos dias comuns da vida, embora a nossa expectativa ainda
é de Esperança.
Tivemos as comemorações do Natal e do Réveillon, cada um com as
possibilidades que teve de celebrar. É para esses que escrevo. Porque bem sei que as maiorias esquecidas, empobrecidas, vivendo à margem do que nos parece ser a
normalidade do viver, não terão acesso a essas páginas.
Natal e Ano Novo são comemorações das minorias das cidades e das populações ocidentais. Entre esses, alguns tiveram alegres momentos com aqueles que amam: os familiares, os amigos ou os colegas de trabalho. Outros, por escolha, preferiram comemorar sozinhos. Todos, assim espero, se perguntando o que virá no futuro. E o que será importante realizar para torná-lo melhor.
As horas desses primeiros dias pareceram saídas de um relógio
novinho, disposto a registrar horas abençoadas, ricas de humanidade.
E, quiçá, um sentimento de humanidade que exige um verdadeiro empenho, para ver nascer e educar pessoas que possam construir algo mais sensato e mais belo
do que fomos capazes de fazer, até agora.
Bem sabemos que o novo ano não surgiu do nada. Nasceu de muitas páginas viradas que deixaram marcas, lembranças, saudades, e histórias pessoais e políticas que
ficarão em nossa memória. As últimas delas, aqui no Brasil, desaparecerão nas cinzas tenebrosas do passado. E serão lançadas no fundo do baú, deixadas no esquecimento do que já não é e não
voltará a ser jamais.
Hoje, quando este primeiro dia comum de 2018 madrugou, trazendo os raios
de sol ao chão da minha varanda, não vi apenas o fulgor do surgimento de um
novo dia. Para além dos arranha-céus que me fecham a visão expandida do céu, senti
que eram as primeiras horas de um novo tempo ao qual preciso me preparar.
Nós, viventes, – diferentemente dos satélites e dos astros que se movimentam
em vaivém e sempre retornam, após o seu giro em volta do sol, – temos a necessidade de parar um pouco, mover o nosso
olhar interior para dentro de nós e buscar, no profundo, a expressão maior do
nosso brilho, e das nossas pequenas alegrias.
É a incrível e necessária capacidade
que temos de recomeçar, enquanto o sol é o sol, as estrelas são estrelas, a lua brilha como a única mulher celeste a nos encantar, e os satélites nos acenam no seu mistério de vidas
que gostaríamos de conhecer.
Nesses momentos, percebo que a nossa paz pode assentar-se ao lado das sérias preocupações que nos chegam, dia após dia: nossos pequenos medos, as situações e as pessoas que nos fazem sofrer, a discriminação, o racismo e a violência. E, olhando melhor, o afeto e o cuidado daqueles com quem convivemos.
Resta, a alguns, a busca do
perdão e da paz para a sua própria história, aquela que somente nós conhecemos. Parece-me que esta é uma sensação especial, apenas
para os maiores de trinta anos. Os outros, que ainda não chegaram lá, têm a
graça e o conforto de quem segue os seus sonhos e acredita poder alcançá-los todos, no correr da vida.
Assim, vamos tecendo e ligando os retalhos do tempo, nas horas que correm velozes, reconstruindo o delicado tecido do viver e do amar.
Em cada encontro
fortuito, buscamos reinventar a atenção do afeto, o cuidado do amor, e as relações
que fazem parte da vida que escolhemos.
Para muitos, é a alegria de estar com os filhos e as pessoas que se
ama. A sensação exuberante de iniciar uma nova experiência de amor. A força de começar
a viver de forma autônoma. A festa pelo trabalho encontrado. O encontro com um amigo que há muito não se via...
Entendi, por experiência, que não é novidade a mudança periódica dos
anos, dos meses, das semanas, dos dias, das horas e dos momentos que costuram a arte de viver. Na caminhada, somos nós os únicos que podemos mudar e renovar o caminho e inventar as veredas que nos podem salvar. Esforçando-nos para suscitar o novo dentro de nós, e vislumbrando os bons frutos do nosso empenho cotidiano. Pois a vida é feita de
instantes. De um só momento. Depois outro... Depois outro...
A energia do momento é tirada das raízes viçosas das relações que estabelecemos com as pessoas, –aqueles que amamos, aqueles de que amorosamente cuidam de nós e aqueles que precisam da nosso atenção e cuidado.
Bom seria, que nos perguntássemos dia após dia, escutando lá dentro, e ouvindo com maior atenção:
- O que posso fazer para cooperar na construção da paz?
Quando se consegue descobrir essa chama, e se toma uma atitude concreta, simples que seja, já
é possível estar mais contente com a vida.
E não esquecer que – se 2018 chegou novinho em folha – nós somos os mesmos. E seremos sempre os mesmos, embora, se quisermos, em ritmo permanente
de mudança.
O importante é o aprendizado de ser dom para aqueles que amamos. Convictos de que o que recebi a mais ou melhor do que outros, me foi dado para ser doado.
Se não me me esforço para me doar, risco de perder a energia que me move para a vida.
Enquanto me ocupo de fazer alguém mais feliz, me sentirei um ser realizado. E capaz de ouvir mais, dialogar mais, apoiar mais, com=viver mais, na simplicidade do amor.
Essa energia em movimento - que
para alguns significa a presença do Inefável, da Vida que me gerou e me mantém vivo/viva - me ajudará a ser melhor do que fui e quero ser.
Não seria este o sentido que queríamos dar quando dissemos e escrevemos, tantas vezes, há dias atrás:
Feliz ano novo!
Feliz ano novo!
Feliz
ano novo!
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Texto de: Vanise Rezende
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