A cidade de Uauá, na Bahia, é mais
conhecida, no Brasil, por duas referências: foi palco da primeira batalha da Guerra de Canudos, e é tida como a
"Capital
do bode”, pois todo ano
realiza uma exposição de caprinos e ovinos. E ainda leva a fama de ter a carne
de bode mais saborosa da região. Nos festejos juninos do município predomina o
verdadeiro forró "pé-de-serra", com intensa participação popular, a preservar
as raízes culturais do Nordeste. No mês de agosto, a sua tradicional exposição
de caprinos e ovinos reúne grandes empresários e turistas de todo o Brasil.
Como outras cidades sertanejas, Uauá
também registra, na sua história, a passagem de Virgulino Ferreira da Silva o respeitado cangaceiro “Lampião”, que ficou
hospedado na casa de Roque Ferreira (filho de Davi Ferreira, o primeiro morador
do município). Apesar de situar-se na região semiárida do nordeste brasileiro,
é um município economicamente sustentado. O bode representa 1/3 do PIB do
município. Os trabalhadores rurais de Uauá fazem parte de um programa de
convivência com o semiárido que já mudou a vida de muitas famílias através do
beneficiamento das frutas do sertão a exemplo do Umbú. A seguir, o instigante
convite Roberto
Malvezi - Gogó [i], que encontrei no site Adital. [ii]
Festa do Umbu e da Vida em Uauá - BA
“Você quer ver mel em abundância, cerveja de umbu
(25 reais a longuinete), bode assado com macaxeira por todo lado, geleia de umbu, compota de umbu, suco de maracujá
da caatinga, rendas, artesanatos e tantos produtos que mostram a abundância da
vida no Semiárido Brasileiro? Então você deveria ter ido ao 7º Festival do Umbu
em Uauá, organizado pela Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e
Curaçá (COOPERCUC).
Estamos saindo de uma seca de cinco anos, sendo
dito que estamos atravessando a "maior crise econômica do Brasil da
história”, que em outras épocas significaria que metade de Uauá deveria estar
por outros lados do mundo, menos no sertão nordestino. E totalização dessa
produção alcança cerca de 200 toneladas por ano.
Ali, onde nasce o Vaza Barris, hoje um rio seco, onde logo abaixo Antônio Conselheiro
encontrou um lugar onde "jorrava leite e mel” (Canudos), às margens do
Vaza Barris, sertão antigamente dito como "bravo”, a festa foi grande,
cheia de vida, de produtos, de gente. O mesmo povo que começou a festa na sexta
pela noite ainda estava lá 4 hs da manhã do domingo, dançando ao som da música
típica da região, embora sempre apareça algum forró eletrônico para quebrar a
beleza musical.
O paradigma de ‘convivência
com o Semiárido’ intuído por homens
como Guimarães Duque e Celso Furtado (Discurso de inauguração da SUDENE, 1959),
foi tirado do papel e da imaginação pela sociedade civil, nos últimos anos, que
lhe deu carne, na troca de experiências acumuladas pela população sertaneja,
com sua captação de água de chuva, o manejo da caatinga, uma agricultura
conforme o ambiente, pelo cultivo do umbu, do maracujá do mato, dos animais
adaptados ao Semiárido como a cabra e a ovelha. Então, a vida veio abundante,
mesmo em tempos de seca.
Essas são conquistas dos últimos 20 anos, com
programas construídos pela sociedade civil como a ASA (Articulação no Semiárido
Brasileiro), ou por componentes como o IRPAA (Instituto Regional da Pequena
Agropecuária Adaptada). Não veio dos coronéis, nem do Estado, mesmo esse um
pouco mais modernizado. O que houve foi o apoio econômico dos últimos governos,
o que deu escala a esse trabalho, com mais de 1 milhão de cisternas para beber
e mais de 150 mil tecnologias de produção implantadas.
A COOPERCUC tem mercado interno e externo, seus
produtos vão para a Itália, França e Áustria. Essa é a prova que a
"irrigação” não é o único veio produtivo do Nordeste e nem o principal. O
PIB da irrigação gira em torno de dois bilhões de reais ao ano, enquanto o PIB
do sequeiro em 2008 já girava em torno de 140 bilhões de reais ao ano.
Portanto, os números desmentem os mitos.
Parabéns à COOPERCUC, trabalho que mostra a beleza
e a viabilidade do sequeiro nordestino, com a caatinga em pé, ambiente
preservado e cheio de vida. O único caminho para os biomas brasileiros sobreviverem
é o da convivência. Quem tem
inteligência ambiental sabe.”
---------------------------------------------------
[i] Roberto Malvezzi, Gogó - Equipe CPP/CPT do São Francisco. Músico. Filósofo e Teólogo - robertomalvezzi@hotmail.com
[ii] In: Adital – site
adital.com.br/site/noticia - 03.05.2016
Créditos Imagens:
1. Foto de Lampião - www.eunopolis.ifba.edu.br/omfpr,atoca/Sites_Historia
2. 7º Festival Umbú - 2015 - www.aratuonline.com.br
3. 8º Festival Umbú - 2016 - www.portal,uaua.com.br
4. São João Uauá-BA - 2013 - www.portalsg.ne.10.uol.com.br
5. XXXVI Expo Uauá - 2015 - www.portal.uauá.com.br
6. Foto de Roberto Malvezzi - www.10envolvimento.org.br
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas, e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com
Nenhum comentário :
Deixe seu comentário: