GRANDE SERTÃO:VEREDAS
- João Guimarães Rosa
O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas
– mas que elas vão sempre mudando
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão". (i)
Para o grande escritor e poeta João Guimarães Rosa, a ideia das diferentes diferenças e da capacidade de mudar das pessoas, de se reorientar – de dentro para fora, – era “uma alegria de montão”.
Será que conseguimos pensar assim, quando observamos as contínuas mudanças das pessoas mais próximas: amigos e
amigas, namorados e namoradas, maridos e esposas, filhos e filhas, genros e
noras?
Há sempre o que se aprender sobre as relações humanas, para que as mudanças observadas nas pessoas tragam alegria de montão à nossa vida.
Há sempre o que se aprender sobre as relações humanas, para que as mudanças observadas nas pessoas tragam alegria de montão à nossa vida.
Entremos num acordo de que a nós não cabe
discernir que as mudanças das pessoas com quem convivemos devam ser tais ou quais, assim
como concebemos nós do nosso lugar no mudo.
A grande intuição de Guimarães Rosa é que as pessoas não estão sempre iguais, pois ainda não foram terminadas – e que elas estão sempre mudando.
Ele demonstra acreditar essas mudanças são para o melhor que cada um de nós está continuamente a estabelecer para si ou para o outro, e sabe muito bem o quanto o outro é diferente de si.
No entanto, é comum alguém se encontrar a comentar com os amigos sobre a surpreendente visão que tem das mudanças que vê acontecer naqueles com quem convive: – Ele não podia ter feito isso...; – Ela não tinha que fazer assim...; – Eu pensava que eles...
Quanto nos falta de desconfiômetro!
Todos sabemos que, ao final, cada um se expressa, na convivência, com o seu jeito próprio de ser. E, quando não se sente seguro de fazê-lo, é porque não encontra espaços de compreensão e liberdade para ser o que é.
É claro que existem convivências problemáticas, pessoas que se enroscam em si mesmas e não conseguem ver nada além do seu próprio nariz, do seu próprio desejo, da sua imutável visão das coisas. Para essas pessoas, existem os profissionais da área, psicólogos e psiquiatras que as ajudam a encontrar sua forma de melhor conviver, e de entender melhor os outros.
Sem esquecer que as pessoas ”...estão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Pensando bem, não é coisa
tão simples de se alcançar, como sugere a sábia e profunda escrita poética de
Guimarães Rosa. Conviver é coisa dura e difícil, parecida com os caminhos do cenário sertanejo
das Minas Gerais que o autor descreve no seu livro “Grande Sertão: Veredas”.
Em muitas
religiões a orientação é buscar respeitar esse jeito das pessoas que ora estão
agradáveis, afinadas, compreensivas, ora desafinam, e se desdobram em maus
humores de muitas faces. É aí que o amor fraterno requer
de cada um de nós a capacidade de acolher o outro como ele é, ou... como ele se
mostra ser em suas contínuas mudanças.
Acolher as
nossas recíprocas diferenças é o caminho maior, - certas vezes muito exigente -
mas carregado de possibilidades de boa convivência. O importante é decidir
começar primeiro. Ser o primeiro a dar o passo necessário para o recomeço.
Como fazer, então? “...Precisa ter ânimo, energia e paciência forte”.
Mas, tomada a decisão, o escritor sugere que se deve “dar
tudo a Deus, que de repente vem com novas coisas mais altas, e paga e repaga,
os juros dele não obedecem medida nenhuma”.
E conclui:
“ É
o que a vida me ensinou.
Isso que me alegra montão".
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(i) Citações retiradas do romance Grande Sertão: Veredas,
João Guimarães Rosa – Ed. Nova Fronteira. Biblioteca do Estudante.
Rio de Janeiro, 2006.p.23/1
Crédito Imagens : www.canstockphoto.com.br
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