O jornalista Kotscho, publicou em: www.balaiodokotscho.com.br/ um artigo que prima pela clareza de visão, capacidade de síntese, linguagem contudente e de fácil compreenção, chamando-nos a atentão de que tudo o que ele descreve se passou em apenas quatro anos. Como notificou o escritor e teólogo Leonardo Boff, - ao reproduzir o mesmo artigo no seu site - "Kotscho é um dos mais sérios e premiados jornalistas do Brasil. Publicamos sua coluna por ser esclarecedora do que está sucedendo em nosso país: seu desmonte." Segue o artigo.
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Foto: Sergio Moro e Jair Bolsonaro, agora de costas um para o outro, foram parceiros na obra de destruição de um país. Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado; Fernando Frazão/Agência Brasil
Dois anos depois, o deputado virou presidente e o juiz se tornou seu ministro da justiça.
Não
foi nada combinado, ao que parece, mas aconteceu.
Para
que isso se tornasse possível, derrubou-se um governo, “com o Supremo, com
tudo”, quebrou-se o sistema político-partidário e grandes empresas, prendeu-se
o candidato favorito nas eleições de 2018 e se instalou uma nova ordem em nome
do combate à corrupção, com o apoio dos generais, do mercado e de grande parte
da mídia.
E
assim chegamos ao final de 2020, sem vacinas e sem governo, com a economia e as
instituições em frangalhos, o Judiciário e o Congresso desmoralizados, a
pandemia fora de controle, contaminando e matando milhares de brasileiros todos
os dias, a tropa de choque do Centrão de volta ao poder e o meio ambiente em
combustão.
Em conflito com a China, a União Europeia e o novo governo americano, viramos párias na política internacional e motivo de deboche na mídia do mundo inteiro.
Agora, cada qual segue em caminhos separados: um já está em campanha pela reeleição, para completar o serviço de não deixar pedra sobre pedra, enquanto o outro acaba de assinar contrato milionário com uma consultoria americana para salvar as empresas brasileiras que ajudou a destruir.
Nem o mais alucinado roteirista de Hollywood seria capaz de criar um enredo como esse, em que 212 milhões de habitantes assistem impavidamente à destruição do seu país, correndo risco de vida, diante da inépcia do governo, que anuncia o início da imunização só para março e adia a compra de vacinas e seringas. Negacionismo e fundamentalismo matam.
Até lá, mantida a média atual de 775 óbitos por dia registrados em 24 horas, morrerão mais 44.545 brasileiros, como alerta hoje meu velho amigo Ascânio Seleme, em sua coluna no Globo.
“Difícil dizer quantas exatamente, mas muitas das dezenas de milhares de mortes que vão ocorrer nos primeiros meses do ano que vem, devem ser atribuídas às estúpidas diretrizes políticas de Bolsonaro, obedecidas cegamente pelo imprevidente ministro Eduardo Pazuello”, escreve o colunista.
Em hospitais de São Paulo e do Rio, e em várias outras regiões do país, crescem as filas para quem aguarda uma vaga em UTI, e o sistema público de saúde já ameaça entrar em colapso. Em Washington, onde vai morar, o ex-juiz Sergio Moro talvez tenha mais sorte de ser vacinado, deixando para trás um cenário de terra arrasada.
Entramos no modo salve-se quem puder.
Vida que segue
Fonte
do artigo: https://leonardoboff.org/artigos/5.12.2020
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